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O campo do design é atravessado por interesses, visões de mundo e desigualdades sociais que, muitas vezes, passam despercebidos. As narrativas convencionais da História do Design – constituídas, em grande medida, a partir de perspectivas nortecêntricas – costumam abarcar, não raras vezes, discursos evolucionistas, deterministas e maniqueístas, reduzindo aquilo que é complexo.
Na História do Design há uma ênfase na questão autor-obra que promove um apagamento de relações e questões mais amplas que envolvem a produção, circulação, uso e consumo de artefatos. A maneira como o design é teorizado-produzido é importante, uma vez que ao transformar ideias (gênero/sexualidade; classe social; raça/etnia; idade/geração; corpo; religião e etc.) em formas sólidas, tangíveis e duradouras, o design parece ser a verdade em si mesma, agindo sobre nós, regulando nossos modos de pensar, sentir e estar no mundo (FORTY, 2007).
A História do Design é muito voltada à produção industrial e padronização de produtos, com foco nos artefatos voltados ao espaço público e com abordagens ligadas ao Modernismo. A criação de artefatos abrange questões sociais, culturais, políticas e econômicas (SANTOS 2015). A “prática do design não é uma atividade isolada. Ela ganha suas condições de possibilidade no contexto e no intercurso social” (SANTOS, 2015, p. 25).
As narrativas sobre a história do design, desta forma, funcionam como uma “lente pela qual olhamos o design. Essa lente amplia e dá foco para o que é considerado importante de ser lembrado, mas também relega o que ficou de fora ao esquecimento” (SANTOS, 2015, p. 26).
Sendo assim, buscamos construir Histórias do Design que possibilitem a reflexão crítica, dando relevo para as contradições e as complexidades, questionando a naturalização das desigualdades sociais, e tornando explícitas as relações de poder.
FORTY, Adrian. Objetos de desejo: design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
SANTOS, Marinês Ribeiro dos. Questionamentos sobre a oposição marcada pelo gênero entre produção e consumo no design moderno brasileiro: Georgia Hauner e a empresa de móveis Mobilinea (1962-1975). In: ALMEIDA, Marcelina das Graças; REZENDE, Edson José Carpintero;SAFAR, Giselle Hissa; MENDONÇA, Roxane Sidney Resende (orgs.) Caderno a Tempo. Histórias em arte e design. Vol. 2. Barbacena: EDUEMG, 2015