Esther Mahlangu

0 Compartilhamentos
0
0
0
0
0

Esther Mahlangu, uma das artistas visuais do continente africano mais aclamadas globalmente, nasceu no ano de 1935 em Middelburg, Mpumalanga, África do Sul. Ela pertence à aldeia dos Ndebele, um dos poucos povos sul-africanos que conseguiu preservar suas tradições ao longo dos séculos. O legado artístico dos Ndebele (artefatos com miçangas e pinturas murais) é transferido de mãe para filha assim que as jovens atingem a puberdade, uma vez que essas atividades são proibidas para os homens.

Os Ndebele eram guerreiros notáveis e proprietários de muitas terras, mas em torno de 1883, entraram em disputa com os Bôeres – colonos europeus que se estabeleceram nos séculos XVII e XVIII na África do Sul, a fim de obter terra para suas plantações. Em vista disso, os Ndebele se deslocaram para o norte do país e também para o Zimbábue, construindo casas com calcário que passaram a receber pinturas, realizadas por mulheres, inspiradas nos designs de miçangas. Inicialmente, elas utilizaram tons castanhos e pretos e padrões em forma de V, que resultaram em uma linguagem secreta usada pelos Ndebele para se comunicarem entre si, sobretudo, estratégias de guerra, orações, anúncios e etc.

Atualmente, as pinturas – repetições de formas geométricas, multicoloridas, brilhantes com contornos pretos sobre fundo branco – não são mais realizadas como estratégias de guerra, mas como parte do rito de passagem da juventude. Para celebrar, mulheres repintam o interior e o exterior de suas casas com pigmentos naturais como esterco de vaca. As cores das paredes, assim como as das miçangas, evocam significados positivos e negativos. Por exemplo: preto (+casamento e renascimento/ – morte e tristeza); azul (+ fidelidade e pedido especial / – hostilidade e antipatia); amarelo (+riqueza/ – sede e seca); verde (+ contentamento/ – doença); vermelho (+ amor/ – sofrimento); branco, sempre usado como plano de fundo para criar contraste com as cores, só evoca significados positivos, a saber, pureza e amor espiritual.

Ensinada pela mãe e avó, Esther Mahlangu começou a pintar aos 10 anos e hoje aos 85 é considerada uma “pioneira” dentro da própria comunidade, visto que por meio das suas criações, a arte/cultura Ndebele ganhou visibilidade em diversas partes do mundo. Esther desenha a mão livre, sem esboços, utilizando penas de galinhas como pincéis.


Em 1989, a artista foi “descoberta” em sua aldeia e convidada por André Magnin – curador da exposição “Magiciens de la Terre”, realizada no Centro Georges Pompidou, em Paris – a criar os murais da exposição. Assim, Esther Mahlangu tornou-se a primeira mulher de seu povo a atravessar o oceano para expor o estilo artístico dos Ndebele. Após a exposição, Esther recebeu diversas encomendas de trabalhos e realizou designs de superfície para a Fiat e a BMW, a British Airways, e a Melissa. Também realizou uma obra para o Fórum Nelson Mandela, em conjunto com o respectivo ex-presidente da África do Sul. Além disso, Esther conta com obras incluídas em importantes coleções particulares como “A Coleção de Arte Contemporânea Africana (CAAC) ” de Jean Pigozzi e em diversos museus ao redor do mundo.

Independente do sucesso de suas obras e reconhecimento mundial, Esther ainda vive em sua aldeia, onde tem contato frequente com sua cultura e sonha em construir uma escola de artes para manter a tradição dos Ndebele. Esther Mahlangu pode ser compreendida tanto como artista quanto designer, não possuindo formação tradicional na área, mas atuando em áreas como design de superfície e de embalagens, com algumas estampas tradicionais da sua cultura aplicada nos mais diversos produtos.

Referências

  • Secretaria Municipal da Educação. Esther Mahlangu – arte africana e customização. Disponível em: <https://educacao.curitiba.pr.gov.br/noticias/esther-mahlangu-arte-africana-e-customizacao/1841. Acesso em: 22 de outubro de 2021.
  • Secretaria da Educação. África do Sul – Esther Mahlangu. Disponível em: <http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=128&evento=1. Acesso em: 22 de outubro de 2021.
  • Portal Geledés. Esther Mahlangu, da tribo sul-africana Ndebele, criou um mural em Évora. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/esther-mahlangu-da-tribo-sul-africana-ndebele-criou-um-mural-em-evora. Acesso em: 22 de outubro de 2021.
  • African Contemporary. Esther Mahlangu, 1935. Disponível em: < https://www.africancontemporary.com/Esther%20Mahlangu-pt.htm. Acesso em: 24 de outubro de 2021.
  • https://www.youtube.com/watch?v=0tIqHkRqRoo
Conteúdo: Hellen Ramalho, Lukas Cascione, Mateus Siqueira e Silvio Molina
Colaboração: Profa. Maureen Schaefer França
Disciplina: História das Artes Gráficas
Você também pode gostar