Cadê as pessoas negras no Design? (série 1)

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O título desta atividade – proposta pela Profa. Maureen Schaefer França para estudantes matriculados na disciplina de História das Artes Gráficas do Curso de Tecnologia em Design Gráfico da UTFPR – foi derivado do nome do projeto “Cadê os pretos no design?” lançado em 2016 por Horrana Porfírio, aluna do curso de graduação em Design da FAU-USP, após perceber: que era a única mulher negra entre o corpo discente; a inexistência de professores negros; e que não conhecia criativos negros relacionados ao campo do design (PORFÍRIO, 2019a). Em 2018, Horrana Porfírio e Ciro Fico, também aluno da FAU-USP, realizaram a intervenção visual intitulada “Ensino no design: por quem, para quem?”, cujo objetivo foi “refletir a respeito do racismo, machismo e colonização no ensino do curso de design”. Uma amostra das bibliografias básicas de 13 disciplinas obrigatórias ofertadas pela Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da USP foram categorizadas, coletivamente, de modo a identificar seus autores conforme marcadores de gênero, raça e país de origem.

Com relação ao marcador de raça, 95,3% da bibliografia analisada eram de autoria branca e 4,7% de autoria amarela. Com relação ao marcador de gênero, apenas 18,1% eram de autoria feminina. O diagnóstico apontou ainda que todas as obras estrangeiras tinham origem no Norte Global, sendo oriundas, sobretudo, da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Neste sentido, Horrana enfatizou que os resultados das análises não apenas refletiram a interferência da visão eurocêntrica e estadunidense sobre a construção do nosso conhecimento acerca do design como também pontuou as barreiras de acesso de determinados corpos à academia. A invalidação do saber de certos corpos sobre design pela academia é perpassada por desigualdades sociais, entre elas a visão racista de que, segundo Abdias do Nascimento, “a atividade intelectual, científica, política, econômica, técnica e tecnológica é considerada atributo próprios às pessoas brancas, exclusivo da civilização ocidental” (PORFÍRIO, 2019b).

Recentemente, um grupo formado por Wagner Silva, Tainá Simões, Leandro Assis e Giulia Fagundes criou o website “Designers Negres no Brasil” com o intuito de “reunir milhares de profissionais com o objetivo de estimular ainda mais a visibilidade nacional de pessoas pretas em design” (DNBR, 2021). Por meio do site, designers podem enviar seu perfil (mini biografia, fotografia e website), informando também a área de atuação, nível profissional e localidade onde reside. Neste sentido, tanto o projeto “Cadê os pretos no design?” quanto a iniciativa “Designers Negres no Brasil” oportunizam reflexões acerca da representatividade negra no Design.

A partir dessas questões, a série “Cadê as pessoas negras no Design?” teve como objetivo dar visibilidade à atuação e à contribuição intelectual de profissionais negros para a construção do campo do design. Pois, o apagamento de pessoas negras da “História Tradicional do Design” – tendo sido esta moldada por uma perspectiva colonial -, interditou a tomada de conhecimento a respeito de criadores negros, seus saberes, práticas e criações, prejudicando nossos modos de sentir, pensar e fazer design.

A série abarcou, neste primeiro momento, criativos e criativas do Brasil, dos Estados Unidos e do Zimbábue. Pois, apesar de se tratarem de criativos de diversos países, o que eles “têm fundamentalmente em comum não é, como parece indicar o termo negritude, a cor da pele, mas sim o fato de terem sido na história vítimas das piores tentativas de desumanização” (MUNANGA, 2012, p. 12). Nesta perspectiva, a atividade em questão nos permite conhecer visões de mundo invalidadas pela História Hegemônica do Design, considerando criativos negros como protagonistas de outros saberes, práticas e materialidades, enfatizando a diversidade cultural do design.

REFERÊNCIAS

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