Jessie Newbery

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Jessie Wylie Rowat (1864-1948) nasceu na cidade de Paisley, na Escócia. Filha de William Rowat, fabricante de xales, bordador e ativista político, Jessie sempre demonstrou grande interesse pela arte de bordar e pelso têxteis. Aos dezoito anos de idade visitou a Itália e interessou-se pelos tecidos e artes decorativas. Iniciou os estudos na Escola de Arte de Glasgow (1884-1889) e destacou-se com os bordados suntuosos, diferentes dos modelos pictóricos vitorianos de cores vivas e temas sentimentais, como os da Royal School of Needlework. Seu trabalho original era caracterizado por desenhos equilibrados com contornos e cores suaves, temas florais, e tendo como inspiração o estilo de bordado Crewel do século XVII, influência da aproximação com o movimento Arts and Crafts e do convívio com o The Four, composto por Charles Rennie Macintosh, Herbert MacNair e as irmãs Frances e Margaret MacDonald, ex-alunos de Frances Newberry.

Após a formatura, Jessie trabalhou como artista independente e bordadeira, obtendo reconhecimento com a medalha de bronze pelo design vitral intitulado Tempestas, no concurso de South Kensington em 1890. A exibição de suas produções na Quarta Exposição da Sociedade de Arts and Crafts em 1893 também colaborou para que seu trabalho fosse reconhecido.

Em 1889 casou com Francis Newbery, pintor e diretor da Escola de Arte de Glasgow, e juntos fundaram o Departamento de Bordados, em 1894, dirigido por ela. Conhecida por defender a ideia de que objetos cotidianos mereciam bom desenho e boa apresentação, revolucionou o ensino do bordado, entendido como um assunto especializado e associado às artes. Estudantes frequentavam aulas de desenho, pintura e modelagem antes de iniciar os estudos em bordados. Em oposição à abordagem padrão da época, que era usar transferências e padrões pré-impressos para bordados, Jessie incentivou estudantes a criarem seus próprios desenhos. Ela defendeu o uso de costuras e materiais simples para que fossem acessíveis a todos. Seu trabalho é caracterizado pelas cores roxo claro, verde, azul e rosa e por motivos de vegetais. Flores, especialmente rosas, apareciam com frequência, assim como seu uso distinto de apliques. Encorajava suas alunas a despertarem um senso de design, utilizarem novas técnicas e materiais em seus trabalhos, como os motivos populares, adições de bainhas, miçangas e materiais naturais, além do uso da tecelagem com agulha, práticas modernas para a época.  

O trabalho no departamento expandiu em 1899, quando o Departamento de Educação Escocês emitiu regulamentos para a formação contínua de professores, que estudavam desenho, técnicas e design. Em 1916, aproximadamente 1600 professores já haviam feito o curso, e o Departamento de Bordados foi ganhando cada vez mais reconhecimento das autoridades educacionais escocesas. O departamento de Bordados da Art School e seus ensinamentos ganharam reconhecimento mundial através de seu trabalho, que foi amplamente exibido e frequentemente publicado na revista The Studio. Ela também produziu vitrais, trabalhos em metal e desenhos para tapetes.

Jessie compartilhava da visão do marido, Frances, que acreditava que: “a pintura de quadros é para poucos, mas a beleza no ambiente comum de nossas vidas diárias é ou deveria ser uma necessidade absoluta para muitos”. Jessie Newbery apreciava materiais finos e frequentemente fazia golas de veludo bordadas com fio de seda, ornamentadas com contas de vidro e presas com fivelas de metal, ou de seda, bordadas com fio de seda (imagem 1). Segundo o Museu Victoria e Albert, as técnicas consistem em nós franceses, ponto corrente, ponto trança, ponta pena creta e quatro casas para abotoar os vestidos.

Durante toda a sua vida, Jessie Newbery se interessou por plantas e flores e, embora as usasse de uma forma simplificada, estilizada e quase geométrica, elas são facilmente reconhecíveis. A rosa e sua folhagem (imagem 1) e a vagem e a flor da ervilha (imagem 2) foram reduzidas aos seus elementos essenciais para formarem um design harmonioso, combinando formas naturais e abstratas, mantendo a essência da planta. A forma da rosa foi adotada por muitos/as alunos/as de Glasgow e rapidamente se tornou uma característica da escola, posteriormente conhecida como a ‘Rosa de Glasgow’. De modo semelhante, o motivo do coração usado nas pontas do colarinho (imagem 1) foi amplamente utilizado pelos/as alunos/as de Jessie Newbery. O motivo do coração foi explorado por Ann Macbeth e tornou-se uma das marcas registradas de seus painéis. Appliqué, o método de aplicar um tecido a um tecido base para formar um desenho, tornou-se uma das técnicas favoritas de Jessie Newbery’.

A capa de almofada (imagem 2) tem fundo de linho e é decorada com um motivo estilizado floral e de folhas, bem ao estilo de Jessie, com uma inscrição central em latim: SENSIM SED PROPERE FLUIT IRREMEABILIS HORA: CONSULE NE PERDAS ABS QUE LABORE DIEM (“O tempo flui gradualmente, mas incansavelmente, do qual não há volta; tome cuidado para não perder o dia sem trabalho”). O bordado é feito em ponto cetim com fio de seda, enquanto as flores e folhas são aplicadas em linho sobre o tecido de base.

Imagem 2. Capa de almofada
Imagem 3
Imagem 4

O colarinho (imagem 3 e 4), foi feito meticulosamente com contas de vidro e bordando fios de seda e pontos de cetim, se inspirando fortemente na estética renascentista e evoluindo para as características do estilo de Glasgow. Jessie Newbery incentivava um forte senso de design no trabalho de suas alunas, promovendo um estilo essencialmente linear, aprimorado por seus estudos e projetos de vitrais, esmaltes e mosaicos. Seu estilo individual influenciou muito suas alunas, incluindo Margaret Macdonald, que trabalhava com bordados e, embora tenha deixado a Escola de Glasgow em 1894, pode ter frequentado as aulas de bordado de Newbery.

Apesar de seu evidente talento e habilidades com o bordado, e grande impacto na Escola de Arte de Glasgow contribuindo para a criação do “Glasgow Style”, o trabalho de Jessie Newbery foi muitas vezes atribuído ao seu marido Francis. Isso se deve pela concepção de que os trabalhos desenvolvidos por mulheres eram associados à esfera doméstica e ao trabalho de caráter amador, já que as técnicas de bordado eram passadas de mãe para filha, enquanto os trabalhos desenvolvidos por homens eram resultado de formação e educação consideradas mais qualificadas. Mesmo se uma mulher tivesse acesso ao conhecimento acadêmico e formação, enfrentaria preconceitos sobre seu trabalho. Isto levou poucas empresas a contratarem designers mulheres, estabelecendo um modelo de trabalho freelancer para essas profissionais.

As exposições foram uma oportunidade das artistas apresentarem o seu trabalho ao público e obterem reconhecimento, como a Exposição Internacional de Turim na Itália em 1902, em que diversas produções envolvendo as Garotas de Glasgow foram exibidas ao público. Os artigos em revistas foram outra forma de protagonismo. A revista “The Studio” recorrentemente inseriu as obras de Jessie Newbery em suas edições, contribuindo para seu reconhecimento. Em 1908, Jessie Newbery deixa o Departamento de Bordados devido a problemas de saúde e foi substituída por sua aluna Ann Macbeth, que deu continuidade ao seu trabalho no departamento e tornou as aulas de bordados divertidas para crianças em idade escolar.

Referências

ARTHUR, E. F. Glasgow school of art embroideries, 1894-1920. The journal of the Decorative Arts Society 1890-1940, n. 4, p. 18–25, 1980.

Jessie Newberry. Disponível em:<https://www.theglasgowstyle.co.uk/copy-of-margaret-gilmour-3>. Acesso em: 29 ago. 2023. NEWBERY, Jessie W. Disponível em: <https://aegis-education.com/jessie-w-newbery/>

PAVAN, E. Jessie Newbery and Ann Macbeth: artists e embroiderers of the United Kingdom. Disponível em:<https://mondointernazionale.com/en/domina/jessie-newbery-e-ann-macbeth-artiste-e-ricam atrici-del-regno-unito?org=fals&org=false>

The family of art, design and performance museums · V&A. Disponível em: <https://www.vam.ac.uk/>

WELTGE, S. W. Women in design: Will they find their place in history? WSQ Women s Studies Quarterly, v. 15, n. 1/2, p. 58–61, 1987.

Who was Jessie Newbery and what was her influence on Scottish art? Disponível em: <https://history.scot/who-was-jessie-newbery-and-how-did-she-influence-scottish-art/>

Trabalho desenvolvido por Ana Laura Barbosa, Gustavo Bittencourt, Leticia Silva, Rachel Souza e Tiago Claus, estudantes do curso de Bacharelado em Design da UTFPR, na disciplina de Teoria do Design 1, com a colaboração e revisão de Lindsay Cresto. 

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