Saki Mafundikwa

0 Compartilhamentos
0
0
0
0
0

Saki Mafundikwa, nascido em 1955 na cidade de Harare, é um professor e designer gráfico zimbabuano. Ele fundou a primeira instituição de design gráfico na sua cidade natal e também é autor do primeiro livro sobre tipografia africana. Após a guerra civil na década de 70, Saki se mudou para os Estados Unidos, onde realizou sua graduação em Belas Artes e Telecomunicações entre 1980 e 1983 na Universidade de Indiana. Em seguida, entre 1983 e 1985, o designer zimbabuano realizou seu mestrado em Design Gráfico no programa de Belas Artes da Universidade de Yale. Em 1999, após 20 anos nos Estados Unidos, sendo 12 deles em Nova Iorque, onde chegou a atuar como professor de Tipografia Experimental na Cooper Union, Saki voltou para sua terra natal. Seu retorno teve como objetivo criar uma escola de design, um local no qual fosse possível explorar e valorizar aspectos históricos e culturais do continente africano, tensionando princípios eurocêntricos do design moderno, que apagaram diversas heranças criativas da humanidade.

Saki é o fundador e diretor do Zimbabwe Institute of Viginal Arts (ZIVA), a primeira instituição de design gráfico e mídia localizada em Harare, no Zimbábue (Figura 1). É uma pequena escola para a comunidade, destinada a pessoas que concluíram o ensino médio. O curso tem duração de 2 anos e oferta aulas como História da Arte e do Design, Novas Mídias, Publicidade e Animação. ZIVA na língua nativa “shona” significa “conhecimento”. E “Vigital” é uma palavra da sua própria criação para fazer menção às artes visuais ensinadas com ferramentas digitais. Com a missão “evoluir ou morrer”, conforme suas próprias palavras, Saki acredita que a era digital pode ser uma forma do seu país alcançar o mundo e iniciar uma renovação africana.

Figura 1: Zimbabwe Institute of Viginal Arts (ZIVA)

O designer e professor zimbabuano busca estimular seus alunos a investigarem referências e inspirações da sua própria cultura, do seu próprio povo, que passou por um apagamento por consequência do passado colonial do país. Com esse princípio de olhar mais para “dentro” do que para “fora”, Saki publicou “Afrikan Alphabets: the Story of Writing in Afrika”, em 2004 (Figura 2), o primeiro livro sobre tipografia africana, tendo grande importância histórica sobre a tradição da escrita naquele continente. Um dos seus símbolos favoritos é o Sankofa (Figura 3), que pode ser representado por um pássaro olhando para trás ou por um coração estilizado. O Sankofa significa “volte e entenda”, simbolizando a busca pela herança cultural dos antepassados para construir um futuro melhor. O Sankofa pertence ao sistema Adinkra, desenvolvido pelo povo Akan de Gana e da Costa do Marfim. Os motivos representam provérbios, eventos históricos, ações, objetos, animais e plantas. Tais símbolos existem há cerca de 400 anos.

Figura 2: Livro “Afrikan Alphabets”
Figura 3: Sankofa

A política e o histórico de guerra civil e de extrema pobreza do Zimbábue têm prejudicado o estabelecimento e o desenvolvimento da ZIVA, uma vez que parcerias foram frequentemente rejeitadas, mesmo Saki não possuindo relações com o governo. Ademais, o racismo não é um problema distante, uma chamada no Zoom na qual o professor participou recentemente foi hackeada por um grupo de supremacistas brancos. A pandemia aumentou ainda mais as dificuldades, visto que o mundo passou a se comunicar, em maior medida, de forma online e a atuação de designers no Zimbábue foi afetada, uma vez que a internet no país é descrita como cara e lenta, um verdadeiro luxo.


Apesar das dificuldades, Saki tem inspirado uma nova geração como educador, designer e autor (Figura 4), a influenciando a reconstruir narrativas visuais insurgentes a partir de uma perspectiva decolonial na tentativa de questionar referenciais impostos globalmente.

Figura 4: Saki Mafundikwa

PS: O projeto “The World’s Writing Systems” (https://worldswritingsystems.org/) apresenta um glifo de cada sistema de escrita de diversos momentos históricos e regiões do mundo.

Referências

  • Criatividade e elegância nos alfabetos africanos antigos. Disponível em <https://www.ted.com/talks/saki_mafundikwa_ingenuity_and_elegance_in_ancient_african_alphabets?language=pt-br>. Acesso em 6 de agosto de 2021.
  • Designing From Within: How Saki Mafundikwa and ZIVA Inspire a New Generation of African Artists. Disponível em <https://redshift.autodesk.com/how-saki-mafundikwa-inspires-new-generation-of-african-artists/>. Acesso em 6 de agosto de 2021.
  • MAFUNDIKWA, Saki. Currículo de Saki Mafundikwa. Disponível em: <https://www.linkedin.com/in/sakimafundikwa/?originalSubdomain=zw>. Acesso em: 18 de agosto de 2021.
  • MAFUNDIKWA, Saki. Disponível em <http://www.sakimafundikwa.com/>. Acesso em 6 de agosto de 2021.
  • Visionary on a Mission – Introducing Saki Mafundikwa. Disponível em <https://www.huffingtonpost.ca/beverley-golden/visionary-on-a-mission-in_b_5603755.html>. Acesso em 6 de agosto de 2021.
  • Sankofa: significado desse símbolo africano. Disponível em <https://www.dicionariodesimbolos.com.br/sankofa-significado-desse-simbolo-africano/>. Acesso em 6 de agosto de 2021.
  • ZIVA students work. Disponível em <https://www.behance.net/gallery/78914553/ZIVA-Students-Work>. Acesso em 6 de agosto de 2021.
Texto e imagens produzidos pelos estudantes Alexite Vassallo Weidlich (@alexite_preda), Fabiana Martins Budel (@fabidelamar) e Ryan Barros Ruiz para a disciplina de História das Artes Gráficas, do Curso de Tecnologia em Design Gráfico da UTFPR. Docente: Profa. Maureen Schaefer França
Você também pode gostar