A calcinha tanga e a “revolução sexual”

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A tanga, formada por dois triângulos de tecido unidos por tirinhas, apareceu nas praias cariocas em torno de 1972/1973 na esteira da chamada “revolução sexual”. Naqueles anos, discussões a respeito de uma sociedade “não-sexista” e da “liberação de costumes” ganharam contornos por meio da ascensão da contracultura, da Segunda Onda do feminismo e da maior visibilidade do movimento gay como também através de estudos científicos e de inovações tecnológicas como a pílula anticoncepcional. Estes eventos tensionaram posições de gênero conservadoras alinhadas “à moral e aos bons costumes”, propondo novos modelos de feminilidades e de masculinidades.

Os relacionamentos amorosos se tornaram mais informais. O flerte era mais direto e permitia, mesmo às garotas, mostras mais claras de atração e de interesse. Pedidos formais de namoro, que supunham a aprovação dos pais, entraram em decadência. Beijos e abraços em público se tornaram mais comuns, sem que a honra da garota fosse prejudicada e sem que esses tipos de afetos sugerissem compromissos do tipo “namoro sério”. Jovens passaram a morar juntos para fugir das restrições impostas pela vida familiar tradicional, alterando as práticas sexuais, que avançaram em direção a maior liberdade sexual das mulheres, favorecendo também vivências gays.

Entre parte da juventude que defendia direitos iguais para garotos e garotas com relação às experiências sexuais e para a qual ser vista como “careta” era considerado uma ofensa, ser uma mulher “liberada”, ou seja, que adotava explicitamente a postura de enfrentar o domínio masculino nas relações sociais e nos relacionamentos íntimos, não era mais necessariamente um estigma, representando, por vezes, uma maneira mais corajosa e menos frágil de ser e estar no mundo.

Neste contexto, Rose di Primo, na época uma jovem de 17 anos, teria criado a tanga. Segundo ela, o biquíni da marca inglesa Bibba era muito caro e desbotava rapidamente, então ela resolveu fazer um do seu próprio jeito. Como sua mãe não pode ajudá-la, ela criou a peça sozinha, mas ao fazer a calcinha não soube como resolver o problema das laterais, o que a levou a usar tirinhas e amarrá-las com um laço.

Rose também afirmou ter criado o sutiã de cortininha e o biquíni jeans, batizado de tanga pelo jornalista Justino Martins da Bloch Editores. Uma outra versão conta que a estilista de moda praia Zilda Costa, num dia de grande calor na praia de Ipanema, teria enrolado as laterais de seu biquíni, até transformá-lo na primeira tanga carioca.

Referência

FRANÇA, Maureen Schaefer. Juventude “transada”: moda como tecnologia de gênero na revista Pop (anos 1970). 2021. 466 f. Tese (Doutorado em Tecnologia e Sociedade) – Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2021.

Texto: Maureen Schaefer França
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