Lilly Reich

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Lilly Reich foi uma designer alemã que produziu obras nas áreas do design de interiores, mobiliário, moda e tecelagem. Ela foi destaque tanto na Deutscher Werkbund, onde foi diretora, como na Escola Bauhaus, onde lecionou entre 1930 e 1933. Apesar de ter uma contribuição enorme para esses dois movimentos tão importantes na História do Design, foi só recentemente que ela começou a receber algum reconhecimento. 

Lilly nasceu em Berlim no dia 16 de junho de 1885, em uma família rica. Ela se formou como estilista/bordadeira, mudou para Viena em 1908 para trabalhar na Wiener Werkstätte junto com Josef Hoffmann, onde começou a desenvolver móveis. 

Em 1912, ela participou de uma de suas primeiras exposições, chamada Die Frau in Haus und Beruf (Mulheres em casa e no trabalho)”, cujo objetivo principal era mostrar que as mulheres eram capazes de trabalhar profissionalmente em todas as áreas. Essa exposição, na qual Lilly foi convidada a expor alguns de seus trabalhos de design de interiores, também foi inteiramente organizada por mulheres. Para a época isso foi muito revolucionário, pois existia uma concepção de que trabalhos relacionados à arquitetura eram exclusivamente masculinos. 

Em 1912 também se juntou à Deutscher Werkbund, e posteriormente em 1920, se tornou a primeira mulher a entrar no conselho de diretores dessa instituição. Em 1925, conheceu o arquiteto Ludwig Mies van der Rohe e junto com ele realizou diversos projetos. Da parceria com Mies, ela organizou diversas exposições, sendo as mais notáveis a exposição “Die Wohnung (A Moradia)”, em 1927, e o pavilhão alemão para a Exposição Internacional de Barcelona, em 1929.

Entre as obras de Lilly, uma das mais conhecidas é a Barcelona chair, desenvolvida junto com Mies van der Rohe. Essa é uma cadeira com apoio para os pés e com encosto confortável. As pernas da cadeira formam uma curva dupla para sustentar o assento, que é feito de espuma, borracha e couro abotoado nas costas e no assento. O conjunto, feito de duas peças, é uma cadeira muito apreciada até hoje pelo caráter luxuoso e decorativo. Essa cadeira recebeu este nome devido à exposição de Barcelona, onde foi exibida pela primeira vez.

Outra obra de Lilly é a Poltrona Kubus. Tem o revestimento acolchoado mais cúbico, com o objetivo de proporcionar maior sensação de conforto, elegância e bem-estar. A cadeira Weissenhof, por sua vez, é mais simples, e chama a atenção pela estrutura de metal tubular, típica dos projetos de móveis da Lilly. 

Ela e Mies van der Rohe, com o passar do tempo,  criaram uma relação afetiva, e juntos também executaram o projeto da Villa Tugendhat, em 1930. No mesmo ano, eles também entraram na escola de Bauhaus, ele como diretor e ela como professora.
Durante 1932 e 1933, Lilly lecionou na Bauhaus como diretora do departamento de Design de interiores e do ateliê de tecelagem. Nos anos seguintes, deixou de organizar exibições, mas continuou trabalhando com design de interiores e móveis. Após ter seu estúdio destruído em um bombardeio em 1943, ela trabalhou para Ernst Neufert até o fim da guerra. Desde então, Lilly dedicou sua vida à reabertura da Werkbund, visando valores democráticos e antifascistas, até seu falecimento em dezembro de 1947.

Não podemos apontar a invisibilidade das mulheres para uma única causa: o machismo. É necessário entender como o machismo se manifesta na sociedade, assim como o contexto histórico em que a mulher está inserida. Embora Lilly tivesse algum reconhecimento sobre seu trabalho na época, seu impacto como designer é muito maior do que é lembrado na historiografia do design. Dentre os motivos para o apagamento, estão os críticos e colegas de trabalho, que a criticavam fortemente, não necessariamente por seu trabalho profissional, mas por quem ela era. Por exemplo, na exibição “Die Frau in Haus und Beruf (Mulheres em casa e no trabalho)” o crítico Paul Westhein comentou que a exibição mostrava “todas as falhas das mulheres arquitetonicamente ineptas” – reforçando a ideia de que mulheres poderiam trabalhar com arte decorativa, mas não com design profissional. Durante seu tempo na Bauhaus, ela era vista como apenas a “companheira” do diretor Mies van der Rohe, mesmo tendo um cargo muito importante.  Ao contrário de Mies, que se mudou para os Estados Unidos durante a guerra e teve várias oportunidades de trabalho, Lilly ficou na Alemanha e passou por muitas dificuldades. Devido ao regime nazista, Reich foi frequentemente trocada por colegas homens em exibições, tornando a exposição de seu trabalho ainda mais difícil. Seus esforços de retornar com o Werkbund não tiveram grandes resultados e ela nunca teve a oportunidade de restabelecer seu nome, já que Lilly faleceu pouco tempo depois da guerra. Embora seu trabalho e colaboração com Mies não eram desconhecidos, Lilly foi e continua sendo esquecida da história do design.

Referências

FIELL, Charlotte. Women in design. Londres: Laurence King Publishing, 2019.
ANDRADE, Ana Beatriz Pereira de. As meninas da Bauhaus. 9o CIDI, Belo Horizonte. 2019.
MCQUAID, Matilda. Lilly Reich : designer and architect. The Museum of Modern Art: Distributed
by Harry N. Abrams, 1996. Disponível em:
https://www.moma.org/documents/moma_catalogue_278_300199443.pdf. Acesso em: 13
outubro 2022
LILLY REICH. MoMA, 2022. Disponível em: https://www.moma.org/artists/8059. Acesso em: 13
outubro 2022.
Lizondo-Sevilla, L., Domingo-Calabuig, D. Lilly Reich: The architecture and critique of an
invisibilized woman. Frontiers of Architectural Research, 2022
Matthewson, G. Pictures of lilly: Erasures, additions and errors. Lilith, (12), 65–77. Disponível em:
https://search.informit.org/doi/10.3316/informit.497163383336889

Conteúdo produzido por estudantes André Felipe Lessmann, Erika Yumi Risney Toma, Lara Cristina de Oliveira Sampaio, Lisa Mombach Schmidt, Leonardo Slisinski Padilha Silva para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria do Design 1 (Curso de Bacharelado em Design), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto 
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