Wera Hanna Alice Meyer-Waldeck, nascida em 1906 em Dresden, na Alemanha, foi uma arquiteta e designer de interiores, considerada uma das mais significativas formadas pela Bauhaus.
No ano de 1927, foi para Dessau para matricular-se na Bauhaus, onde ingressou na arquitetura. Ela acreditava ser essencial ter o pensamento crítico e se interessava profundamente pelo conhecimento. Dessa forma, o curso preliminar foi para ela muito valioso, oferecendo às mulheres chances de aprender diversas técnicas e áreas artísticas com vários materiais. Meyer-Waldeck era muito curiosa sobre tudo que estudava, mas ela sempre mantinha uma perspectiva crítica. Gostava do conhecimento técnico, como aprender a calcular a estrutura de uma construção ou solucionar um problema de álgebra, e reconhecia os benefícios do conforto oferecidos pelas tecnologias modernas. Valorizava a beleza da arte, pois somente aspectos técnicos e tecnológicos não provinham dignidade aos projetos de design. Esse interesse em conciliar arte e tecnologia era típico do pensamento de Walter Gropius quando foi diretor da Bauhaus. Essa visão mudou quando Hannes Meyer tornou-se diretor, pois seu foco estava dirigido a outros desafios, especialmente arquitetura e engenharia.
“Eu havia me tornado tão endurecida espiritual e mentalmente pela educação, pela escola e pela academia, que precisei de um organismo extremamente espirituoso para me libertar dessa rigidez. Foi por isso que vim para a Bauhaus. Aqui encontrei gente viva, saudável e muita atividade e vitalidade.”
Wera Meyer-Waldeck, in: ‘bauhaus’, issue 4, Dessau, 1928, p. 18.
A tecnologia era a promessa de um novo mundo que atraiu a atenção de pessoas modernas, mas esse futuro parecia ignorar as mulheres ou, na melhor das hipóteses, elas apareciam como assistentes de engenheiros homens (OTTO; RÄSSLER, 2019). Meyer-Waldeck e outras estudantes decidiram que queriam fazer parte desta elite tecnológica, porém “sem abandonar intuição ou emoção”(OTTO; RÄSSLER, 2019, p.111)
Em 1931, Wera foi certificada como aprendiz de carpintaria pela Guilda de carpinteiros de Dessau por seus projetos de carpintaria e continuou seus trabalhos e estudos de construções. Formou-se arquiteta em 1932, com dois projetos: dois designs para um orfanato de sessenta leitos e uma escola primária com oito turmas.O então diretor, Mies van der Rohe, assinou seu diploma detalhando suas atuação junto a três projetos: envolvimento dela no departamento de carpintaria no projeto do apartamento de Erwin e Hildegard Piscator em Berlim, o Hahn House em Dessau e projeto de escritórios de Walter Gropius em Dessau. Iniciou sua carreira trabalhando para a Companhia Junkers em Dessau, fazendo desenhos para construção de aeronaves de 1934 a 1937. Após esse período, mudou-se para Berlim para fazer parte do Departamento de arquitetura no Escritório Rodoviário Nacional, onde completou alguns designs de pontes e áreas rodoviárias. De 1942 a 1945, Meyer-Waldeck liderou o departamento de planejamento e construção da Companhia Karwin Mining na Alta Silésia. Foi também organizadora e designer na exposição Werkbund em 1949 em Colônia, exibindo projetos de design e protótipos de mobiliário. Foi um dos períodos em que mais teve visibilidade, tanto como arquiteta como designer, trabalhando com um dos mais importantes arquitetos do período, Hans Schwippert.
Graças a seus conhecimentos de inglês e francês, Wera pôde ajudar como intérprete na base militar americana na Áustria após a Segunda Guerra, além de fazer parte da vanguarda na arquitetura para reconstrução da Alemanha. Quando voltou a Dresden, tentou seguir como professora de design de interiores na Universidade de Artes Aplicadas, mas apenas alguns anos depois se mudou para Bonn, capital da República Federal da Alemanha Ocidental, onde abriu seu próprio estúdio de arquitetura em 1950.
Em 1953, fez uma viagem para os Estados Unidos, onde reencontrou os antigos diretores da Bauhaus, Gropius e Miles Van Der Rohe. Nessa mesma viagem, teve contato com a Universidade da Califórnia, na qual teve conhecimento de novos estilos e formas de aprendizado em comparação à Europa. Lá, conheceu a primeira casa a utilizar energia solar na América, projetada por Eleanor Raymond e Maria Telkes, que a inspirou em seu projeto de casa para o Dr. Fritz Bockemühl, terminada em 1956. Como tinha grande interesse em projetos de sustentabilidade, Wera conseguiu a colaboração da própria cientista Maria Telkes para projetos na Alemanha.
Outros de seus projetos incluem: a renovação do prédio de negócios Teppich Schlüter com uma escada curva; colaboração com o design do Bundestag; dois ministérios e do edifício da Chancelaria; projetos de remodelação; contribuição para “A Cidade do Amanhã” na exposição internacional de arquitetura em Berlim de 1957; organização da arquitetura expositiva do Pavilhão da Alemanha Ocidental na Feira Mundial de Bruxelas de 1958; entre outros diversos trabalhos de médio porte e publicações de artigos.
Envolveu-se com organizações femininas, sendo também uma das poucas mulheres a entrar na Associação Alemã de Arquitetos (BDA), além de possuir uma visão do futuro que incluía diversas gerações e diferentes configurações familiares para acomodação. Em 1962, projetou o edifício para o dormitório em Bonn-Friesdorf para as estudantes da universidade feminina, que se assemelhava com seus antigos designs na Bauhaus, apresentando um telhado plano, grande e de equilíbrio estético. Esse deveria ter sido um de seus principais trabalhos, mas Wera faleceu antes da conclusão em 1964, por conta de problemas relacionados à diabete, aos 58 anos na cidade de Bonn. Mesmo que não tenha recebido todo o reconhecimento profissional que deveria em vida, Meyer-Waldeck deixou uma extensa marca no design e arquitetura.
Infelizmente, é notável a desigualdade de tratamento e falta de reconhecimento do trabalho de designers mulheres na história do design, quando se compara com a trajetória de homens. Mesmo que existissem barreiras dentro da Bauhaus para impedir que mulheres acessassem certas áreas de estudo, Wera Meyer-Waldeck teve a oportunidade de conseguir uma alta qualificação. Ainda que tenha encontrado dificuldade de inserir seu nome na área da arquitetura e design, diferente de muitas mulheres antes dela e das próprias estudantes da Bauhaus, teve maior divulgação de seus trabalhos. Esteve muito envolvida em variados projetos com outras mulheres e organizações, o que acrescentou uma inserção maior nas áreas que atuou, porém exigindo que ela trabalhasse mais do que os homens para provar seu talento e obter prestígio.
Referências
BAUHAUS KOOPERATION. Wera Meyer-Waldeck. 2023. Disponível em:< https://bauhauskooperation.com/wissen/das-bauhaus/koepfe/biografien/biografie-detail/person-Meyer-Waldeck-Wera-828> Acesso em: 15 de outubro de 2023.
BAUHAUS DENKMAL. Wera Meyer-Waldeck Bauhaus design for the trade union school. 2023. Disponível em:https://www.bauhaus-denkmal-bernau.de/en/trade-union-school/translate-to-en-pers onen/wera-meyer-waldeck.html Acesso em: 15 de outubro de 2023.
OTTO, Elizabeth; ROSSLER, Patrick. Bauhaus Women: a global perspective. New York: Herbert Press, 2019. 356 p.
Trabalho desenvolvido na disciplina de Teoria do Design 1 por Daniel Pego, Iago Gabriel, Laura Lima e Manuela Forte, estudantes do curso de Bacharelado em Design da UTFPR, com a colaboração e revisão de Lindsay Cresto.
