Aída Boal

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Finalizando a série de mulheres designers, resultado dos seminários propostos nas disciplinas de Teoria e História do Design 1 e 2 em 2022, publicamos a última parte, com foco nas designers brasileiras. As profissionais atuaram e atuam com design gráfico, de mobiliário e produtos, entre 1940 e 2000. É um recorte temporal amplo, mas que possibilita conhecer a produção e a trajetória de mulheres que muitas vezes nem figuram em livros de História do Design ou são citadas brevemente, sem que suas contribuições sejam comentadas. São pesquisas iniciais apresentadas em sala de aula, porém colaboram com a divulgação de conteúdos sobre designers brasileiras, ajudando a compor um panorama para estudantes.

Alguns fatores podem reforçar ou diminuir a invisibilização de mulheres no design. As parcerias, sejam pelas relações familiares ou pelo casamento, podem tanto diminuir como aumentar o apagamento de designers mulheres. Algumas designers tiveram sua produção ofuscada pela atuação de seus companheiros ou familiares, caso de Anna Maria Niemeyer e Estella Aronis, por exemplo; outras receberam notoriedade devido às relações familiares e de parentesco, ou despertaram interesse por sua trajetória devido às parcerias, como Claudia Moreira Sales. Classe social também é um fator fundamental, pois as mulheres que tiveram acesso à educação formal têm diferentes possibilidades de atuação. Raça é outra categoria que pode aumentar ou diminuir a invisibilidade. Designers que desenvolveram produtos do cotidiano raramente aparecem nos livros de história do design, como Beatris Scomazzon, enquanto outras assinam matérias ou têm suas produções em revistas de decoração, como Jaqueline Terpins.

Processos de apagamento e valorização da trajetória e produção de mulheres foram temas de debates durante os seminários nas aulas de Teoria e História do Design. As designers brasileiras apresentadas a seguir formam um breve panorama do design brasileiro na segunda metade do século XX e abre caminhos para reflexões sobre o design contemporâneo em algumas áreas de atuação.

Nascida no Rio de Janeiro e filha dos imigrantes portugueses José Augusto Boal e Albertina Pinto, Aída Boal (1930-2016) exerceu a profissão de arquiteta desde os seus tempos de estudante, tendo muitos trabalhos produtivos e premiados inclusive como artista plástica, principalmente com esculturas. 

Utilizando em seus trabalhos sempre madeira maciça de qualidade como jacarandá, pinho de riga e mogno. Teve dentre suas várias influências a grandiosa escola alemã Bauhaus e seu mestre arquiteto Sergio Rodrigues (1927-2014), projetando seus móveis alinhados ao estilo modernista, visando conforto, simplicidade, minimalismo, ergonomia e uma visão futurista do potencial do mobiliário com identidade brasileira. 

Formada na Faculdade Nacional de Arquitetura (atual Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro), alguns de seus principais feitos durante sua carreira foram: A restauração do Convento do Carmo no Rio de Janeiro, a qual foi convidada pelo professor Cândido Mendes, com características complementarmente diferentes da época em que D. Maria o habitou e recebeu, com orgulho, durante a elaboração desse projeto a aprovação de Lúcio Costa. Desenhou os portões do Estádio do Maracanã em 1950. Os 40 hospitais que projetou no Amazonas em 1968 com material pré-fabricado, proveniente da Inglaterra, foram destaque em sua trajetória.

Em 1952, o pai de Aída, José Augusto, construtor civil na época, abriu a oportunidade para que ela projetasse um edifício de 4 andares bem localizado na cidade do Rio de Janeiro, sob a condição de que o mestre de obras fosse mais novo que ela, que tinha 22 anos, ou as honras e os méritos da construção não seriam dela. Em 2013, integrou a exposição “Do Moderno ao Contemporâneo – O Design Brasileiro de Móveis”, no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, como artista plástica. Nos anos 1990, comercializou suas peças com sucesso na loja Hum, dos arquitetos Cláudio Bernardes e Sérgio Serzedello, no Rio de Janeiro.

Quando falando sobre seu trabalho na área de decoração e mobília, na qual trabalhou por mais de 50 anos, enquanto falava sobre sua afeição por madeiras maciças, ela disse ” Com uma serra elétrica é possível fazer um sofá”. Esta frase ficou marcada como um slogan de Aída.  

 Aída tinha uma pequena linha de produção na serra fluminense, a qual ela acompanhava de perto cada projeto sendo desenvolvido, já que começou fazendo poucos móveis, principalmente para familiares e amigos. 

Suzana Amado fala sobre a artista e amiga “Perfeccionista” (AMADO, Suzana. Aída Boal Pelos Outros: Suzana Amado. Disponível em: http://aidaboal.com.br/PelosOutros.htm), Aída começou seu trabalho de criação apenas imaginando formas e volumes. Quando uma linha harmônica desperta sua atenção, vai então para a prancheta desenvolvê-la, levando sempre em conta, no caso de suas cadeiras, as curvas do corpo humano e o conforto a elas necessário. Cria então um protótipo muitas vezes testado e adaptado para aliar o conforto à harmonia da forma inicialmente imaginada.” 

A admirável atenção que Aída Boal tinha quanto ao aspecto ergonômico de seus artefatos fez com que ela seja até hoje, reconhecida não somente pela estética, mas também pelo conforto e aconchego oferecido por suas produções. 

Aida Boal faleceu no dia 27/05/2016, aos 86 anos, no Rio de Janeiro, depois de passar por diversos tratamentos para problemas respiratórios. Apesar disso, ela não parou de trabalhar até semanas antes de sua morte. 

Um de seus recentes projetos foi a poltrona Christina, protótipo resgatado pelo projeto Viés, criado por Flávio Franco, Zanini de Zanine e Ronald Scliar Sasson, com o objetivo de valorizar o bom design brasileiro. 

Quanto ao apagamento de Aída, existem algumas possibilidades que demonstram as possíveis causas da pouca fama atual. Dentre os apontamentos descobertos nesta pesquisa pode-se citar a ditadura militar e as consequências à sua família, pois, apesar de a própria não ter sofrido ataques diretamente, seu irmão Augusto Boal, dramaturgo renomado, foi torturado e exilado por suas posições político-sociais, o que pode ter feito com que Aída tenha escolhido um estilo de vida mais pacato e recluso, a fim de se proteger. Outra hipótese é que  do irmão, não deixou espaço para associação do nome Boal à arquiteta. Por último, a teoria de que, por não vender ao grande público diretamente, isto é, não ter seus produtos em grandes lojas e sim sob encomenda em seu estúdio, ela tenha escolhido não participar do mercado varejista, levando assim sua carreira ao conhecimento exclusivo de especialistas na área do mobiliário.

Referências

MEMO – Mercado Moderno. Aída Boal. MEMO – Mercado Moderno, 2018. Disponível em: https://memobrasil.com/en/project/aida-boal/. Acesso em: 10/12/2022.

MELO, Alexandre Penedo Barbosa De. DESIGN DO MOBILIÁRIO MODERNO BRASILEIRO: ASPECTOS DA FORMA E SUA RELAÇÃO COM A PAISAGEM . 2008. 339 pg. Área de Concentração: Design e Arquitetura – Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2008.

O Explorador. Aída Boal: Arquiteta e Designer. O Explorador, 2016. Disponível em: http://www.oexplorador.com.br/aida-boal-arquiteta-e-designer/. Acesso em: 09/12/2022.

Casa Vogue. Aída Boal morre aos 86 anos no Rio de Janeiro. Casa Vogue, 2016. Disponível em: https://casavogue.globo.com/Design/Gente/noticia/2016/05/aida-boal-morre-aos-86-anos-no-rio-de-janeiro.html. Acesso em: 09/12/2022.

DPOT. Aída Boal. Disponível em: https://dpot.com.br/aida-boal.html#:~:text=A%20arquiteta%20e%20designer%20teve,Nacional%2C%20no%20Rio%20de%20Janeiro.. Acesso em: 10/12/2022.

FERRAZ, Ignez. Aída Boal: Uma Alma de Artista. Ignez Ferraz. Disponível em:http://www.ignezferraz.com.br/mainportfolio4.asp?pagina=Artigos&cod_item=944. Acesso em: 10/12/2022

SALOIO, Rita. SANTOS, José. Aída Boal, Arquiteta. DESIGN AÍDA BOAL. Disponível em: http://aidaboal.com.br/bio.htm. Acesso em: 09/12/2022.

JUSBRASIL. Aida Boal Marinho Coelho x Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda – Assefaz. Jusbrasil, 2016. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/processos/95636827/processo-n-006XXXX-4520168190001-do-tjrj. Acesso em: 13/12/2022.https://www.jusbrasil.com.br/processos/95636827/processo-n-006XXXX-4520168190001-do-tjrj

Instituto Augusto Boal. Augusto Boal e Aída Boal. Acervo Boal, 2018. Disponível em: http://acervoaugustoboal.com.br/augusto-boal-e-aida-boal. Acesso em: 11/12/2022.

Wikipedia. Augusto Boal. Wikipedia, 2022. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Boal. Acesso em: 09/12/2022.

SALOIO, Rita. SANTOS, José. Catálogo Aída Boal. DESIGN AIDA BOAL, 2020. Disponível em: http://aidaboal.com.br/Catalogo/. Acesso em: 10 dez, 2022.

RETROSPECTIVA DE AÍDA BOAL EM SEUS 55 ANOS DEDICADOS AO DESIGN DE MÓVEIS. Radar Decoração, 2015. Disponível em: https://radardecoracao.com.br/retrospectiva-de-aida-boal-em-seus-55-anos-dedicados-ao-design-de-moveis/. Acesso em: 10 dez, 2022.

Obras Sérgio Rodrigues. ItaúCultural, 2022. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa230381/sergio-rodrigues/obras. Acesso em: 10 dez, 2022.

Folha de São Paulo. Aída Boal. Folha de São Paulo, 2016. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/44169-ainda-boal. Acesso em: 10/12/2022

CAVALCANTI, João Carlos. Aída Boal. PUC-Rio. Disponível em: https://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/solar/expos_97/texto_a.html. Acesso em: 10/12/2022.

Conteúdo produzido por estudantes João Lucas, Giovanna B. Ariele e Manuela para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria do Design 1 (Curso de Bacharelado em Design), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto

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