Cartazes na ditadura chilena

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Este texto se trata de um resumo feito pelos estudantes Bianca Scarpin, Eduardo Lahud e Helena Lopes a respeito do artigo indicado abaixo:

CRISTI, Nicole; ARANEDA, Javiera Manzi. Political Resistance Posters During Pinochet’s Dictatorship in Chile: Approaching the Graphic Backroom. In: Journal of Design History, volume 32, edição 1, fev. 2019, p. 69–87. 

O referido artigo trata da produção de cartazes durante a ditadura militar no Chile, que durou de 1973 a 1989, dando relevo para dois grupos de resistência que atuaram contra o governo autoritário de Augusto Pinochet: Agrupación de Plásticos Jóvenes (APJ) e Centro Cultural Tallersol. A perspectiva das autoras leva em consideração a peça gráfica como ato político por si só, não apenas como um produto com conteúdo político explícito. Em outras palavras, o artigo enfatiza que, além das decisões gráficas, a metodologia e as questões de reprodução e autoria possuem caráter político de resistência.

Em 11 de setembro de 1973, o Chile sofreu um golpe de estado com o objetivo de derrubar o governo de Salvador Allende, socialista do partido “Unidade Popular”, que havia sido eleito pela maioria. Assim como em outros países da América Latina, os Estados Unidos encorajaram o combate às ideologias socialistas no cenário da Guerra Fria. Nesse contexto, foi criado um regime autoritário com censura explícita legitimada pela nova legislação imposta por Pinochet, que justificava suas medidas contra as comunicações gráficas. Todo e qualquer cartaz nas ruas das cidades, que apresentasse alguma ameaça ao governo, era coberto por tinta branca, tornando o espaço público, um local silenciado.

Dessa forma, cartazes contra o regime passaram a ser produzidos em um cenário de perseguição, tortura, execução e desaparecimento dos opositores à ditadura chilena. Por baixo dos panos, os grupos APJ e Tallersol tiveram voz na resistência. Ambos foram criadores e promotores do design de cartazes e contaram com uma grande rede constituída por trabalhadores gráficos, movimentos sociais entre outras organizações. Inicialmente, essas peças foram afixadas nas “fissuras” das cidades, voltando a circular nas ruas, como artefatos de manifestação, apenas em 1980.

Em relação à APJ, o processo de criação geralmente tinha início com a solicitação de alguma organização da rede de resistência. A produção não era remunerada, apenas o custo do material era pago. A produção e a assinatura dos cartazes eram coletivas, velando e protegendo a identidade de cada membro. Devido ao caráter coletivista, a estética empregada era indefinida, mas ainda assim, foi possível perceber estratégias gráficas comuns como o uso de fotomontagens, gravuras, impressão por serigrafia, uso do retrato para humanizar as vítimas e caligrafias com alto grau de expressividade.

Já em relação ao Tallersol, a linguagem gráfica foi mais homogênea. Ilustrações com traços irregulares, imagens de alto contraste e lettering expressivo são algumas das características estéticas utilizadas nos cartazes desse grupo. Assim como a APJ, o Tallersol utilizava a serigrafia para impressão (ainda que ambos os grupos tenham utilizado técnicas artesanais mais simples por algum tempo, devido sua maior acessibilidade), realizada em uma oficina própria, que permitia um controle sobre a produção.

O aspecto coletivo e autônomo da produção dos cartazes de resistência comprova a visão das autoras com relação a um tipo de artefato político por si só. Com o objetivo de resistir e questionar a ditadura, foram constituídas correntes de solidariedade e inovação em um contexto de devastação. Enxergando dessa forma, é possível inspirar-se no poder de expressão de um trabalho coletivo.

Dados sobre as autoras do artigo: 

Nicole Cristi é designer e licenciada em Estética pela Pontifícia Universidade Católica do Chile, onde também atua como professora de História e Teoria do Design. Ela pesquisa a relação entre comunicação gráfica e política no Chile e na América Latina. 

Javiera Manzi Araneda é socióloga pela Universidade do Chile. Conferencista, arquivista e pesquisadora independente, ela estuda a relação entre arte, política, feminismo e lutas sociais no Chile e na América Latina. 

Conteúdo produzido para série “Design gráfico na América Latina”, da disciplina História das Artes Gráficas, sob orientação da profa. Maureen Schaefer França, no primeiro semestre de 2021.

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