A alemã Dörte Helm (1898-1941), admitida na Bauhaus em 1919, tinha como objetivo se tornar ilustradora de livros infantis, conforme desejo de seu pai. Alma Siedhoff-Buscher (1899-1944), outra estudante da escola alemã, realizou designs para crianças, a saber, brinquedos educativos e mobiliários inspirados nas novas tendências pedagógicas. A estadunidense Ray Eames (1912-1988), junto ao marido Charles Eames, também criou brinquedos e móveis infantis nos anos 1940/1950, em consonância com a vertente de design humanista, que ganhou corpo com designers da Escandinávia a partir dos anos 1930.
Apesar das criações mencionadas acima terem sido produzidas em contextos específicos, as mesmas estão articuladas a estereótipos de gênero que transbordaram limites geográficos e temporais. As ilustrações, os brinquedos e os mobiliários infantis estão vinculados historicamente à relação naturalizada entre mulheres, espaço doméstico e maternidade, sendo a prática do cuidado vista como intrínseca aos seres femininos. Sendo compreendidos como frutos do dom presumidamente natural das mulheres, produtos infantis criados pelos setores femininos foram muitas vezes inferiorizados, afinal não seriam resultado do esforço intelectual, mas “apenas” da intuição. A cadeira com um coração vazado no encosto, desenhada pelo casal Eames para o público infantil, foi atribuída apenas à Ray, visto que o artefato tinha um ornamento figurativo, sendo lúdica e “emotiva” demais para ter sido projetada por um designer modernista e renomado como Charles. Estas histórias dão visibilidades a hierarquias e a oposições de gênero (trabalho x dom natural; esfera doméstica x esfera pública; razão x emoção) que sustentaram (e ainda sustentam) desigualdades sociais no campo do design, afetando o reconhecimento de criações realizadas por mulheres assim como suas áreas de atuação.
Texto: Maureen Schaefer França