série design brasileiro
Por Amanda Wawruk, Andrew Holanda, Eduarda Feix, Emile Kipper, Helena Colino
José Carlos de Brito e Cunha nasceu no Rio de Janeiro em 1884. Conhecido como J. Carlos, foi um ilustrador, chargista, cartunista e quadrinista, exaltado como um dos maiores designers gráficos do art déco no Brasil. Aos dezoito anos publicou uma caricatura na revista ‘Tagarela’ que reunia os maiores desenhistas da época, logo passou a ser um parceiro da publicação.
Assim deu-se o início a longa carreira desse designer que por quase meio século entregou trabalhos feitos a mão com a precisão de uma máquina, sendo suas obras uma grande crônica gráfica dos hábitos, costumes e comportamentos da sociedade brasileira daquele período. Seu trabalho era tão apreciado que durante a visita do cineasta americano Walt Disney no país, ficou encantado com seus desenhos, e supostamente até mesmo o convidou a trabalhar nos estúdios Disney, apesar de não aceitar a oferta, acabou por enviar o esboço de um papagaio que viria a inspirar a criação do personagem ‘Zé Carioca’.
Tendo contribuído para as mais diversas revistas ao longo dos anos veio a falecer de um ataque fulminante em sua prancheta de trabalho na redação da última revista que veio a contribuir em 2 de outubro de 1950.
De modo geral, suas técnicas eram desenvolvidas em lápis e acabadas em nanquim ou guache em alguns casos, e faziam uma síntese visual muito forte a partir dos seus estudos tipográficos. Além disso, em suas artes gráficas, o cronista se utilizava do negativo como forma de expressão e as partes, preenchidas ou não, compunham sua arte de maneira igualmente importante.
Durante sua carreira cobriu os eventos mais importantes da história como as duas guerras mundiais e a guerra civil espanhola. Seu trabalho foi muito importante nessa época já que a propaganda nazista vinha muito forte nas décadas de 30 e 40 e através de duas obras ele pode fazer contrapropaganda a tais ideais.
Seus personagens ganharam vida e se popularizaram a partir da produção de capas para a revista Careta (entre 1908 e 1921). Com o decorrer do tempo e o reconhecimento exponencial de seu trabalho, J. Carlos acabou ilustrando quase todas as revistas do período: A Cigarra, Vida Moderna, Revista Nacional, Cinearte, Tico-Tico (infantil), O Papagaio, entre outros. Durante toda a sua carreira estima-se que tenha produzido entre 100 mil desenhos em quase 50 anos.
No início da década de 1920 J.Carlos adentra o universo infantil, com o objetivo de desenvolver personagens que estariam presentes nas revistas desse segmento. Alguns desses personagens são: Jujuba, Lamparina, Goiabada e Carrapicho, etc.
O primeiro e único livro totalmente ilustrado e escrito por J Carlos, com uma abordagem pedagógico-edificante, que visa destacar as virtudes e qualidades que crianças devem cultivar ao longo da vida, como a honestidade e a obediência aos pais. A obra também é reconhecida por muitas vezes trazer animais como protagonistas ou coadjuvantes.
J. Carlos também fez capas para a revista Fon-fon, que tinha como temática os costumes e o cotidiano carioca, críticas artísticas, sátiras e curiosidade. Tendo como influência o final conturbado do século 19, com a implementação da república e o processo de abolição da escravidão que resultaram em conflitos nas estruturas sociais. A concentração da população nas áreas urbanas e o surgimento do trabalho informal acentuaram a ideia da marginalização social.
Foi também nesse período que se originou a imagem do Brasil como país do Carnaval. A alegria festiva, o humor debochado e certa vontade de subversão são representadas nos foliões, nas melindrosas,colombianas e na figura urbana do malandro.
A revista Para Todos foi outra revista em que J. Carlos foi um grande contribuinte e chegou até mesmo a ser chefe editorial. Até 1926 a revista era voltada exclusivamente para a fotografia mas com o surgimento da cinearte teve que reestruturar sua temática e entrou em um novo ciclo, trazendo assuntos leves, seções voltadas a várias expressões artísticas e culturais que permitiram maior liberdade gráfica. Dessa forma, J. Carlos criou uma coleção de personagens femininos e explorou a dicotomia enfrentada pelas mulheres daquela época – a independência dos padrões patriarcais e a visão sexualizada. A figura da Melindrosa, criada pelo artista com base nas singularidades nacionais, ao mesmo tempo que transmite malícia e sensualidade, também remete a uma libertação moral dos costumes.
Referências
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