Ken Garland & o Manifesto “First Things First”

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Ken Garland (1929-2021) – designer gráfico, fotógrafo, escritor e educador britânico – faleceu nesta última semana.

Em 1963, Garland e outros 20 designers, fotógrafos e estudantes escreveram o manifesto First Things First em prol de um design humanista. Garland também criou o emblemático símbolo da paz feito em 1960 para a Campanha pelo Desarmamento.

Abaixo, o Manifesto First Things First escrito coletivamente em 2020. Para quem quiser assinar, acessar o link: https://www.firstthingsfirst2020.org

(…) Somos designers criados num mundo no qual o lucro foi posto antes das pessoas e do planeta, numa tentativa de manter as engrenagens do capitalismo oleadas e bem conservadas. O nosso tempo e energia são cada vez mais utilizados para criar procura, explorar populações, extrair recursos, encher aterros, poluir o ar, promover a colonização e para impulsionar a sexta extinção massiva do nosso planeta. Ajudamos a criar vidas confortáveis e felizes para alguns da nossa espécie, enquanto deixamos que outros fossem prejudicados; os nossos designs, por vezes, servem para excluir, eliminar e discriminar.

Muitos professores e profissionais de design perpetuam esta ideologia; os mercados recompensam-na; uma onda de imitações e “likes” reforçam-na. Incentivados neste sentido, os designers aplicam, então, as suas competências e imaginação para vender carros rápidos, fast fashion e fast food; copos descartáveis, plástico bolha, e quantidades intermináveis de plásticos de uso único; fidget spinners, refeições pré-feitas e aparadores de pelos de nariz.

Comercializamos ideais corporais e dietas pouco saudáveis; produtos e apps que promovem o isolamento social e a depressão; consumo de sistemas alimentares insustentáveis; vendemos curas milagrosas, micro-vidas de instagram, e um interminável feed em scroll…e depois queremos re-consumir isto, uma e outra vez. Sim, o trabalho comercial sempre pagou as contas, mas muitos designers deixaram que se tornasse, em grande medida, aquilo que os designers fazem. Esta, por sua vez, é a forma como o mundo vê o design.


Muitos de nós têm vindo a sentir-se cada vez mais desconfortáveis com esta visão de design. Por isso, apelamos a uma mudança substancial sobre o que e como designers desenham.
As alterações climáticas estão criticamente entrelaçadas com o privilégio que advém da classe, raça e gênero, e não podemos continuar a insistir no caminho da mera sustentabilidade, mas devemos criar novos sistemas que desfaçam e regenerem o que foi feito.

Texto: Maureen Schaefer França

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