Mapa-múndi e interesses políticos

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Os mapas não se tratam de retratos fiéis da realidade, funcionando como representações simplificadas do globo terrestre. A omissão de alguns nomes de cidades na criação de mapas, por exemplo, pode sugerir que o território teria supostamente menor valor, não sendo digno de interesse.

A cartografia é uma prática de design antiga, embora sua versão moderna tenha sido desenvolvida em diálogo com o colonialismo europeu. Nesta perspectiva, mapas foram criados não apenas para facilitar as navegações, mas também para mapear territórios e legitimar a conquista de “novos” espaços. Às vezes, apenas mapear territórios “recém-descobertos” já era motivo suficiente para declarar a posse sobre eles, mesmo sem ter desembarcado neles ou tomar conhecimento acerca da população nativa e de sua respectiva história.  

A priori, a melhor maneira de representar o mundo seria por meio de globos, mas estes nem sempre funcionam conforme as necessidades de determinado contexto. Sendo assim, os mapas costumam ser empregados para tentar representar, simultaneamente, todos os “lados” de um globo. Essa tradução é chamada de projeção, que dificilmente será ideal, pois nenhuma superfície curva pode ser projetada sem sofrer distorções.

O mapa Mercator tem sido classificado por diversos estudiosos como um artefato colonialista e enganador. Possivelmente, boa parte de nós aprendemos geografia por meio desse mapa, sendo inclusive a referência padrão do Google Maps. O mapa em questão foi criado em 1569 pelo cartógrafo belga Gerardus Mercator (1512-1594) com finalidades náuticas, usando direções da bússola como se fossem linhas retas. Esta estratégia acabou por “repuxar” os polos Norte e Sul, fazendo o continente africano e a América do Sul parecerem muito menores. Sendo assim, o mapa Mercator nos dá uma perspectiva de mundo datada do século XVI ao mostrar a Europa maior e os países colonizados menores.

Mapa-múndi Mercator (1569). Fonte: PATER (2020).

O historiador e cartógrafo alemão Arno Peters (1916-2002) criticou o mapa Mercator em 1973, afirmando que ele sobrevalorizava os povos europeus, distorcendo a imagem do mundo para vantagem dos mestres coloniais da época. Peters apresentou então uma alternativa mais igualitária, representando mais fielmente as áreas, de modo que fosse possível comparar os tamanhos dos continentes e dos países. Logo descobriu-se que o cartógrafo escocês James Gall (1808-1895) já havia feito algo semelhante em 1855, então o mapa ficou conhecido como Gall-Peters. Para alguns estudiosos, o mapa Gall-Peters seria uma das melhores estratégias cartográficas de representação do mundo, tendo sido promovido pelas Nações Unidas como um padrão e usado em diversas escolas britânicas. Sua única falha é que para manter as áreas iguais, acabou por distorcer as formas dos continentes.

Mapa-múndi Gall-Peters (1973). Fonte: PATER (2020).

Logo, cartógrafos costumam enfrentar a dificuldade de minimizar distorções de diversos aspectos dos mapas como distância, direção, tamanho e formato dos territórios. O mapa Winkel-Tripel, criado em 1921 pelo cartógrafo alemão Oswald Winkel (1974-1953), minimizou as distorções de alguns desses aspectos, tendo sido eleito pela National Geographic Society como a projeção preferencial. Desde então, muitos institutos de educação e editores de livros escolares passaram a seguir essa recomendação.

Mapa Winkel-Tripel (1921). Fonte: PATER (2020).

Ademais, quem define quais países devem ser localizados na parte superior e inferior; no centro, no lado esquerdo e direito do mapa? Essas escolhas são subjetivas, estando sujeitas a um viés cultural. Sendo assim, além da falta de precisão, não raras vezes, os mapas são desenhados de maneira enviesada e mediante interesses políticos, privilegiando alguns territórios e suas respectivas populações sobre os demais, moldando e/ou reiterando desigualdades sociais.

Mapa chinês com a China ao centro. Fonte: PATER (2020).

Dica de texto complementar: https://teoriadodesign.com/america-invertida-o-mapa-de-ponta-cabeca/

REFERÊNCIA:

PATER, Ruben. Políticas do design: um guia "não tão) global da comunicação visual. São Paulo: Ubu Editora, 2020. 

Resumo feito por Maureen Schaefer França.

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