O branco na moda masculina 1960/1970

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A partir do século XIX, o preto e o branco passaram a ser usados em vários países europeus para representar a diferença entre masculinidades e feminilidades burguesas em um período de expansão comercial e industrial. Apesar da divisão não ser tão rigorosa, o preto ainda era exceção no vestuário feminino enquanto era a norma nas roupas masculinas. O preto passou a ser empregado para simbolizar o mundo do trabalho, a dignidade profissional e uma posição de poder, ganhando estrutura por meio de ternos e cartolas, materialidades marcadas pela verticalidade e ideia de ascensão. Em contrapartida, o branco evocava a ideia de que o mundo do trabalho estava fechado para mulheres, sendo usado em vestidos, xales e gorros em diversas ocasiões, inclusive, em práticas de lazer (passeios, corridas de cavalos), estando associado a ideias de pureza, delicadeza, virtude, honestidade e humildade (HARVEY, 2003).

No século XX, o branco passou a ser mais utilizado no vestuário masculino, sobretudo, em roupas esportivas e de lazer, reiterando o distanciamento da cor com relação ao mundo do trabalho (BLACKMAN, 2014). No final dos anos 1960, roupas brancas passaram a ser usadas por celebridades associadas à contracultura, possivelmente, como forma de questionar modelos normativos de masculinidades alinhados a ideias de força, poder, racionalidade, seriedade e trabalho. Em 1968, Mick Jagger usou um figurino integralmente branco (uma espécie de vestido-camisa sobre calça) desenhado por Michael Fish – estilista britânico popularmente conhecido por ter criado figurinos e roupas para diversas celebridades do período – para um concerto em Londres, no Hyde Park. Em 1969, John Lennon se casou com Yoko Ono trajando paletó e tênis na cor branca. Na capa do disco Abbey Road, lançado no mesmo ano, o cantor usou terno e tênis novamente na cor branca, evocando um tipo de elegância mais despojada e informal (BLACKMAN, 2014; CAMARGO e NEGRÃO, 2008).

O uso de roupas brancas pelos homens naqueles anos – além de flertar com aspectos historicamente ligados às feminilidades convencionais – também poderia estar articulado à oposição da contracultura à Guerra do Vietnã e a sua posição a favor da cultura da paz como também como forma de rejeitar o capitalismo, por vezes, relacionado ao poder, à avareza e à competitividade no intuito de moldar modos de ser e estar no mundo supostamente mais puros, honestos e coletivos (FRANÇA, 2021).

Referências

Para conferir as referências supracitadas, acessar:

FRANÇA, Maureen Schaefer. Juventude “transada”: moda como tecnologia de gênero na revista Pop (anos 1970). 2021. 466 f. Tese (Doutorado em Tecnologia e Sociedade) – Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2021.

Texto: Maureen Schaefer França
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