Flavia Aranha é uma designer brasileira contemporânea, nascida em Campinas, no interior de São Paulo. Em torno dos 12 anos, teve aulas de artes e de corte e costura. Aos 17 anos, passou uma temporada na renomada escola de design de moda Central St. Martins, em Londres. De volta ao Brasil, Flavia ingressou no curso de moda na capital paulista. Recém-formada, trabalhou na Ellus, realizando viagens internacionais, inclusive, para China e Índia, onde observou as desigualdades sociais que perpassam as relações de trabalho vinculadas a cadeia produtiva da moda: desde trabalho infantil a mulheres bordando peças sob chão de terra batida e com esgoto a céu aberto. A partir dessa experiência, Flavia adotou uma postura profissional e política em contraposição a tal rede de opressão, propondo outra maneira de atuar no campo da moda. Sendo assim, Flavia opta por sair da Ellus, iniciando o processo de abertura de sua marca homônima.
Para Flavia, o início de toda peça vem da terra, para tanto a designer procurou articular aspectos sociais e de responsabilidade ambiental em sua criação, passando a trabalhar com redes de artesãs do interior do Brasil. Em 2009, Flavia Aranha começou sua produção marcada por peças amplas e “atemporais”, com tecidos e processos de tingimento naturais, advindos do solo brasileiro. Atualmente, Flavia possui lojas em São Paulo e Lisboa. Flavia, diferentemente, de grande parte das mulheres brasileiras possui privilégios de classe, tendo tido a oportunidade de estudar moda no exterior o que possibilitou vantagens para ela, sobretudo, porque no Brasil, experiências no continente europeu costumam ser muito valorizadas. Contudo, ao ingressar na indústria da moda, sua sensibilidade com relações às questões sociais e ambientais falou mais alto, a levando a atuar, de certa forma e em certa medida, na contramão dos arranjos capitalistas, uma vez que tem nas vestimentas o substrato de relações laborais, artísticas e experimentais mais equilibradas.
Este posicionamento a deixa à margem da produção de massa, aspecto fundamental dos circuitos hegemônicos da indústria da moda que, muitas vezes, reforçam desigualdades sociais. Flavia Aranha nos ajuda a pensar a respeito da contribuição feminina no que tange às articulações entre moda, desenvolvimento tecnológico, sustentabilidade, territorialidade e enaltecimento dos saberes artesanais das comunidades sertanejas.
Texto: Takashi Matsuda (@takamatsudaa), mestre em Tecnologia e Sociedade pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Resultado do Minicurso "A (in)visibilidade das mulheres no design" ofertado pelas professoras Lindsay Cresto e Maureen Schaefer França em 2020.