Elsie De Wolfe

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Nascida em 1865 em Nova York, Ella Anderson De Wolfe, mais conhecida como Elsie de Wolfe, era de uma família abastada, porém endividada, apesar do pai médico. Desde pequena mostrava interesse pela estética e decoração, considerando os locais onde morou feios e criticando as cores que sua mãe escolhia para compor a paleta da decoração do local. Afirmou certa vez que ficou inconsolável quando seus pais decoraram o quarto de desenho com um papel de parede feio da Morris & Co. Criticava frequentemente a estética da época, como no artigo Uma Vida de Bom Gosto, do The New Yorker (2004), quando se descreveu “como uma criança feia que viveu em uma época feia”. Ao longo de sua carreira, defendeu a substituição de mobiliário e decoração de estilo vitoriano, que detestava e lembrava sua infância. 

Enviada à Europa para morar com os tios, Elsie estudou em uma escola particular na Escócia. Quando retornou a Nova York em 1884, conheceu a agente teatral Elisabeth “Bessy” Malbury em uma festa e iniciou uma carreira como atriz profissional. Recebeu notoriedade pelas vestimentas extravagantes que encomendava de Paris, gerando interesse pelas peças por parte da plateia e tornou-se famosa por esse aspecto. 

Melbury se tornou a companhia mais próxima de Elsie nesse período, viajaram juntas e passaram a compartilhar uma nova casa em 1892, permitindo que De Wolfe colocasse em prática os princípios de decoração totalmente pessoais que, segundo ela, deveriam ser replicados em todos os lares. As duas compartilharam a casa e o gosto por coleções e antiquários.

Elsie detestava o estilo vitoriano ainda vigente em muitas casas Propôs a substituição dos móveis de madeira ornamentados e as cortinas pesadas por móveis mais leves, a iluminação natural e espaços abertos. Além disso, substituiu as paredes estampadas por lisas, pintadas em tons claros e utilizava vários espelhos que ampliavam o espaço.

Graças ao reconhecimento como atriz, suas conexões e o sucesso em redecorar sua residência, motivada por Melbury, Elsie decidiu iniciar profissionalmente a carreira de decoradora de interiores, uma profissão inexistente até o momento, muito ligada à atuação dos arquitetos, sendo pioneira no mercado de decoração de interiores. 

Seu primeiro trabalho como decoradora foi o Colony Club em 1905 (imagem acima), em  parceria com o arquiteto Ogden Codman. Elsie foi  responsável por projetar o interior de um clube exclusivamente para mulheres, no qual quebrou as convenções de como um clube deveria ser. Substituiu painéis de madeira e móveis de couro pesados por um visual leve e fresco, com cores suaves e femininas. Com a inauguração do clube, sua reputação cresceu muito, demonstrando seu requinte ao exibir um visual totalmente diferente do design masculino da época. Seu estilo é considerado mais feminino, leve, com unidade visual, cores claras, pisos de azulejo e espelhos, além da forte influência Chinoiserie (moda francesa inspirada em elementos chineses) e uso de vime ou bambu nas decorações, características que se tornaram marca registrada de seu trabalho. 

O sucesso deste projeto garantiu diversas comissões lucrativas na Europa e nos Estados Unidos nos seis anos seguintes. Com Melbury, De Wolfe comprou uma mansão em Versalhes, denominada Villa Trianon, que estava em ruínas e por um preço bem abaixo do esperado, que veio a se tornar seu projeto de vida.

Outro trabalho importante foi a decoração da casa de Henry Frick, um empresário do ramo de carvão na França em 1913. Foi seu projeto mais lucrativo De Wolfe ficou encarregada da decoração de 14 quartos, utilizando obras de arte da coleção do proprietário Adotou um estilo luxuoso e confortável, com vários móveis em estilo francês do séc. XVIII. 

De Wolfe publicou em 1913 uma coletânea de seus artigos sobre design de interiores no Livro “The House in Good taste”, no qual defende alguns princípios da decoração de bom gosto. Entre eles, a adequação e preocupação das necessidades dos ocupantes, simplicidade, conforto e proporção, além de várias dicas de decoração para leitores/as. Elsie foi uma das primeiras profissionais a defender que a decoração deveria expressar a personalidade da dona da casa, e não o status financeiro do marido, demonstrando uma abordagem mais individualista no design de interiores domésticos. 

Aos 60 anos, Elsie casou-se com o diplomata britânico Sir Charles Mendl em 1926, passando a se chamar Lady Mendl. Um casamento de conveniência bom para ambos, que mantinham residências separadas e frequentavam festas em Versailles, onde moravam na época. 

Apesar de sua participação na Primeira Guerra com assistência hospitalar, De Wolfe se envolveu em polêmicas. Entre elas, a decoradora teria perguntado a Dali quando foram apresentados em Paris “você pinta?”, pois, segundo o The New Yorker (2004), havia considerado as obras do pintor horríveis quando visitou a coleção de Gertrude Stein. Em sua passagem por Roma, em 1933, De Wolfe fez afirmações polêmicas a favor do fascismo e gestos de saudação fascista. Cercada por algumas polêmicas e sua defesa da beleza e do bom gosto nos interiores, De Wolfe deixou um legado sobre design de interiores e influenciou uma geração posterior de mulheres que enxergaram oportunidades profissionais nesta área a partir de sua atuação. De Wolfe faleceu em 1950, na antiga casa onde vivia com Melbury, a Villa Trianon.

Referências

FIELL, Charlotte; FIELL, Clementine. Women in design.From Aino Aalto to Eva Zeisel. Laurence King Publishing; 1ª edição, 2019.

Elsie de Wolfe. Encyclopedia. Disponível em: https://www.encyclopedia.com/people/history/historians-miscellaneous-biographies/elsie-de-wolfe. Acesso em: 10 set. 2022.

Elsie de Wolfe. Interiors & icons. Disponível em: https://www.interiorsicons.com/blog/elsie-de-wolfe. Acesso em: 10 set. 2022.

Elsie de Wolfe. Stringfixer. Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Lady_Elsie_De_Wolfe_Mendl. Acesso em: 10 set. 2022.

Elsie de Wolfe American interior designer. Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Elsie-de-Wolfe. Acesso em: 10 set. 2022.

GRAHAM, Mhairi. Elsie De Wolfe: America’s First Interior Decorator. Another Mag. Disponível em: https://www.anothermag.com/fashion-beauty/4015/elsie-de-wolfe-americas-first-interior-decorator. Acesso em: 10 set. 2022.

MUNHALL, Edgar. Elsie de Wolfe, The American pioneer who vanquished Victorian gloom. Architectural Digest. Disponível em: https://www.architecturaldigest.com/story/dewolfe-article-012000. Acesso em: 10 set. 2022.

RUTH, Franklin. A Life In Good Taste. The New Yorker. Disponível em: https://www.newyorker.com/magazine/2004/09/27/a-life-in-good-taste. Acesso em: 10 set. 2022.

Conteúdo produzido por estudantes ANA LUIZA OLIVEIRA SILVA (@anlzos), BRENDA RUIZ VIANA (@bre_rv_), JHORDAN ALISSON WOGENSKI (@jhordanwogenski), JOÃO VITOR OLIVEIRA DOS ANJOS (@ ooliverdesign) para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria do Design 1 (Curso de Bacharelado em Design), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto
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