Nascida em Viena, na Áustria, em 30 de agosto de 1874, a estilista e empresária que atuou no “fin-de-siècle” Emilie Louise Flöge foi a caçula entre seus irmãos e irmãs Helene, Pauline e Hermann. Sua família fazia parte da alta sociedade de Viena, pois seu pai, Hermann Flöge, era dono de uma fábrica de cachimbos. Em 1895, Pauline, sua irmã mais velha, abriu uma escola de costura e Emilie começou a trabalhar com ela.
Em 1º de julho de 1904, as irmãs Emilie, Helene e Pauline Flöge fundaram o salão de alta moda “Schwestern Flöge” (irmãs Flöge) na Casa Piccola, na avenida Mariahilfer. Este tipo de empreendimento, comandado por três mulheres, ainda era algo raro na sociedade vienense, mas o estabelecimento logo caiu nas graças da burguesia da cidade, que se tornou uma clientela regular. Em seu período de maior sucesso, o salão chegou a empregar 80 funcionários e posteriormente, mesmo com a terrível crise de 1920, manteve uma clientela estável. O espaço refinado foi desenhado pelo arquiteto Josef Hoffman, que criou um espaço único com uma estética Art Nouveau que se assemelhava aos trabalhos de Emilie, utilizando-se de cadeiras geométricas de madeira, mesas quadriculadas e materiais de luxo como casca de tartaruga e Lapis Lazuli. O Schwestern Flöge chegou ao fim em 1938, após ser inviabilizado economicamente quando a Alemanha nazista anexou a Austria.
Outro aspecto da vida de Emilie Flöge que ganhou destaque foi a amizade com Gustav Klimt. A relação dos dois surgiu com o casamento da irmã de Emilie com o irmão de Klimt, o que promoveu a aproximação das duas famílias. Aos 17 anos, a estilista apareceu em um retrato pastel antigo de Klimt, intitulado Emilie Flöge. Nunca se soube exatamente a natureza da relação entre os dois, visto que Emilie tornou-se uma espécie de “musa” e parceira para Gustav Klimt. Entre 1897 e 1913, Klimt escreveu cerca de 400 cartas e postais para Emilie, nos quais não se dirige à designer com termos românticos; pelo contrário, Klimt utilizava saudações surpreendentemente formais considerando a proximidade que os dois desenvolveram. Ainda sim, uma das obras mais famosas de Gustav Klimt, “O beijo”, é atribuída ao relacionamento dos dois. Existem rumores que consideram a pintura como sendo uma cena romântica entre os dois amantes.
Em inúmeros momentos Emilie e Gustav se ajudaram e participaram da criação um do outro. Klimt frequentemente pintava suas modelos usando designs de Flöge e ela, por sua vez, produzia designs que o artista criava. Também acontecia uma espécie de “troca”: enquanto Flöge fornecia a Klimt as modelos mulheres para posarem, Klimt divulgava o Schwestern Flöge ao seu círculo de patronos. Klimt e Flöge também tornaram-se membros da Wiener Werkstätte, uma aliança de artistas e designers fundada em 1903. Ambos queriam que a arte moderna se infiltrasse em todas as áreas da vida, desde móveis até a moda, e promoveram o conceito de Gesamtkunstwerk, ou seja, obra de arte total. Klimt por meio de suas pinturas e Flöge em seus designs de vestidos progressistas.
Quando se fala em revolução da moda feminina, muito se fala na designer Coco Chanel, e quase não se vê menções sobre Emilie Flöge. Entretanto, Flöge já buscava romper com paradigmas no vestuário feminino. Em questão de design, Emilie Flöge seguiu muito uma tendência chamada de “vestidos de reforma”, que fazia parte do conceito de obra de arte total, citado anteriormente. Nessa lógica, ela procurava criar roupas fluidas, soltas e ousadas. Entre os preferidos de Emilie, estavam tecidos estampados, bordados, plissados e principalmente, uma silhueta reta, recusando radicalmente o uso do espartilho.
Estampas florais, efeitos metálicos cromáticos e folclóricos eram inspirações do próprio império Austro-Hungaro. Emilie frequentemente ia para a Hungria para uma estreita colaboração com as bordadeiras
Infelizmente, Flöge viveu em uma época em que o protagonismo de mulheres inovadoras era muitas vezes apagado. Sua trajetória é muito atrelada a Gustav Klimt e após a morte dele, os registros sobre a designer são escassos, como se ela fosse valorizada apenas pela relação com um homem. Devido à falta de registros, a autoria de seus vestidos se perdeu, sendo muitos deles atribuídos ao próprio Klimt ou a terceiros.
Referências
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https://artinwords.de/gustav-klimt-emilie-floege/
https://www.ngv.vic.gov.au/vienna/fashion/emilie-floge.html
https://www.elledecor.com/it/best-of/a34078529/who-was-emilie-floge/ https://www.sothebysinstitute.com/news-and-events/news/floge-klimts-kiss
https://www.encyclopedia.com/women/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/floge emilie-1874-1952
https://www.geschichtewiki.wien.gv.at/Emilie_Fl%C3%B6ge#tab=Familie_2FBeziehungen
https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-132992/o-vestido-da-reforma–design-e-interdi sciplinaridade
https://de.mahlerfoundation.org/mahler/contemporaries/emilie-louise-floge/
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https://www.meinbezirk.at/favoriten/c-lokales/wien-1900-im-leopold-museum-iii-mode_a3727 872#gallery=null
http://www.eshph.org/wp-content/uploads/2016/07/emilie_floege_DE.pdf
https://austria-forum.org/af/Bilder_und_Videos/Historische_Bilder_IMAGNO/Fl%C3%B6ge% 2C_Emilie_Louise
https://www.fembooks.de/mediafiles/Leseprobe/Auf%20Freiheit%20zugeschnitten.pdf https://www.vogue.de/mode/artikel/emilie-floege
Conteúdo produzido por estudantes Luiz Fernando Paula Santos (@luiz.fsantos), Rayane Romano da Silva Santos (@r.aiers), Vitor Neves Silva (@_vitorneves_), Guilherme Augusto Santos de Oliveira (@gui_olivs) para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria do Design 1 (Curso de Bacharelado em Design), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto