Betty Joel nasceu em 1894 em Hong Kong e faleceu em 1985 na cidade de Andover no Reino Unido. Com o nome de batismo Mary Stewart Lockhart, adotou o nome Betty em 1907. A designer viveu os anos iniciais de sua vida no Oriente, fato que influenciou seus trabalhos.
Antes da Primeira Guerra Mundial, estudou na Inglaterra, mas, por conta do conflito, passou a viver na cidade chinesa Weihai junto de seu pai, nomeado comissário civil. Na China, ela estudou Arte Oriental sob tutela de Lockhart, um sinólogo notório.
Casou-se em 1918 com David Joel, um oficial naval, e passou a viver em Hayling Island, na Inglaterra. Betty começou a trabalhar com design de mobiliários para projetar móveis condizentes com suas necessidades e sua casa em vez de tentar adaptar peças antigas. Amigos que admiravam suas peças de mobiliário passaram a encomendar projetos de Joel.
Em 1919, em parceria com o marido, criou a Betty Joel Ltd., estabelecendo a oficina Token Works. Inicialmente, a oficina atendia encomendas reduzidas, mas ganharam popularidade com a mudança para um local mais moderno em Portsmouth e, mais tarde, para Kingston.
Joel foi proprietária de uma loja na Sloane Street em Londres. De acordo com Fiell (2019), ao longo das décadas de 1920 e 1930, Joel trabalhou com o design de interiores, tecidos e peças de mobiliário. Os seus primeiros trabalhos possuíam aspectos que o aproximavam do estilo neo georgiano (estilo arquitetônico inglês do final do século 19 e século 20), mas se tornaram progressivamente mais modernistas.
Hinds (2019) afirma que o estilo de Joel combinava elementos da Art Déco dos anos 1920, um modernismo internacional e tendências funcionalistas. Em 1938 Joel se divorciou do marido e também deixou os negócios. David mudou o nome da empresa para David Joel ltd.
Os trabalhos de Betty combinavam elementos do movimento Arts and Crafts britânicos com sutis referências orientais e modernistas. A designer tinha preferência por utilizar madeiras tropicais em seus trabalhos, como a Teca e o Carvalho (Fiell, C. et al, 2019). Joel criou móveis que priorizavam a praticidade e a funcionalidade, evitando adereços para afastar o acúmulo de pó e utilizando de bordas arredondadas para evitar machucados (Broadbent, 2021). Era característica da empresa colocar um cartão atrás do móvel assinado por ela e pelo marceneiro da obra.
A primeira linha de móveis criada por ela ganhou notoriedade por conta de sua praticidade. O jornalista John Gloag afirmou que o trabalho da designer alcançou a beleza através da linha e da forma, ao invés do uso de ornamentos (Broadbent, 2021).
Seja usando Cedro em gavetas para afastar mariposas, bancos que deslizam para baixo de penteadeiras para economizar espaço e fraldários com luminárias embutidas, Joel sempre buscava criar soluções simples para problemas comuns (Broadbent, 2021).
Na década de 30, começou a alugar móveis para produções de teatro e cinema e também escreveu sobre design em colunas de jornal (Broadbent, 2021). Apesar de Betty Joel nunca ter feito produtos têxteis, ela criou o design de diversos tapetes (Broadbent, 2021). E também atuou na área de design de interiores, projetando ambientes variados e fazendo colaborações com arquitetos renomados, como Arthur Kenyon e Harry Stuart Goodhart-Rendel. Ao longo dos anos 30, criou projetos de interiores comissionados por grandes personalidades, como Winston Churchill e a Duquesa de York (Fiell, 2019). O trabalho mais conhecido de Joel foi a cama circular, exibida em 1935 na British Art In Industry. A designer também ficou conhecida por seus projetos de camas de solteiro, colocadas em duplas nos quartos, como substituição das camas de casal por serem mais fáceis de movimentar, limpar e produzir (The Complete Household Adviser, apud Hinds, 2019). Diferentemente de projetos de outros designers na época, ela posicionava as camas com uma mesa de cabeceira entre elas.
Os projetos de Betty continuam populares, embora tenham preços relativamente acessíveis em leilões (em sites como Cheffins, Poirot Art Deco e Selling Antiques), seus valores estão em ascensão, com alguns móveis vendidos por cerca de £10.000. Seu trabalho foi destaque no The Studio — Uma notória revista de artes plásticas e aplicadas originária de Londres, as publicações abordavam e davam destaque a artistas emergentes das mais variadas áreas (BEEGAN, 2007)— e pode ser visto atualmente nos museus Geffrye e Victoria & Albert, situados no Reino Unido. Percebe-se que a presença de suas obras nesses lugares, colabora para que elas tenham a possibilidade de serem apresentadas a diferentes públicos, proporcionando maior visibilidade delas e da designer.
Apesar do reconhecimento em vida, pode-se considerar que Joel sofreu um apagamento da História do Design, principalmente quando comparamos sua produção com designers do mesmo período, como Émile-Jacques Ruhlmann, Edgar Brandt e Paul Follot. Quando analisados os motivos, podem ser considerados:
O seu divórcio. Não há nenhuma informação de sua vida ou obra após sua separação. Sites indicam que foi uma escolha de Betty deixar o negócio, porém Betty além de designer se envolveu com teatro e cinema e escreveu sobre design em colunas de jornais e revistas se autodenominando Especialista em Design de Interiores e Mobiliário. Portanto a ideia de abandonar tudo pode ser questionada (BROADBENT, 2019).
O fato de não seguir tendências de design dominantes da época. Apesar de ser considerada parte do movimento moderno, seu trabalho não se alinhava de forma clara a nenhuma das escolas predominantes entre os anos 1920 e 1930 (BROADBENT, 2019).
Não ter uma parceria fixa de trabalho. As parcerias do design de Betty eram muitas e variadas e, como ela não estava inserida em uma escola de arte específica, não houve um maior registro da sua vida privada (diário, cartas) (BROADBENT, 2019).
Referências
AIRLIE. Shiona. Thistle and Bamboo: The Life and Times of Sir James Stewart Lockhart. V.1. Hong Kong University Press. 2010.
BEEGAN, Gerry. “The Studio: Photomechanical Reproduction and the Changing Status of Design.” Design Issues 23.4 (2007): 46-61.
BETTY JOEL PARA TOKEN WORKS, 1932. Bonhams. Disponível em: https://www.bonhams.com/auctions/11272/lot/126/.
Betty Joel – the heroine of 1930s furnituremakers. Disponível em: https://www.cheffins.co.uk/about/news/view,betty-joel-the-heroine-of-1930s-fur nituremakers_722.htm.
Betty Joel (Token Works) Arts & Crafts Walnut Bureau 1929. Arts and crafts furniture. Disponível em:
https://arts-and-crafts-furniture.co.uk/products/betty-joel-token-works-arts-craft s-walnut-bureau-1929-sku0020127.
Betty Joel (1894-1985), a 1930s hand-knotted wool rug. Disponível em: https://www.barnebys.co.uk/auctions/lot/betty-joel-1894-1985-a-1930s-hand-k notted-wool-rug-yK-EPOujZd.
BROADBENT, LIZZIE. Betty Joel (18 94 – 1985). Women Who Meant Business, 2021. Disponível em:
https://womenwhomeantbusiness.com/2021/09/22/betty-joel-1894-1985/.
Desk. Collections. vam.ac.uk. Disponível em:
https://collections.vam.ac.uk/item/O144121/desk-joel-betty/ .
FELTON, HELBERT. Exterior view of the Betty Joel Ltd. Factory in Kingston upon Thames. Historic England. Disponível em
https://historicengland.org.uk/images-books/photos/item/CC47/01036.
FIELL. Charlotte. Woman in Design:: From Aino Aalto to Eva Zeisel (More than 100 profiles of pioneering women designers, from industrial to fashion design). Charlotte & Clementine Fiell. 2019
HINDS, HILARY. A Cultural History of Twin Beds. Bloomsbury Academic, 2019. Disponível em:
https://www.bloomsburycollections.com/book/a-cultural-history-of-twin-beds/ch 6-modern-by-design.
Rug. Collections. vam.ac.uk. Disponível em:
https://collections.vam.ac.uk/item/O68219/rug-joel-betty/.
Conteúdo produzido por estudantes Alícia Sotozono, Maria F. Puppi, Mariele Rocha, Milena de Paula para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria do Design 1 (Curso de Bacharelado em Design), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto