Anna Maria Niemeyer

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Arquiteta, designer e galerista, Anna Maria Niemeyer nasceu em 1929 no Rio de Janeiro. É filha única do renomado arquiteto Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho e Annita Baldo. Trabalhou junto com seu pai na construção de Brasília depois de ter sido responsável pelo desenho de interiores de vários edifícios públicos na cidade. 

Anna Maria começou a trabalhar cedo com o pai, aos 16 anos de idade. Foi responsável pelos interiores de vários projetos de Niemeyer e exerceu diferentes funções: de desenhista de mobiliário à escolha de utensílios como os talheres. Em suas palavras, Anna Maria Niemeyer fala sobre o aprendizado trabalhando ao lado de seu pai : “E apesar de eu não ter feito arquitetura, eu trabalhava em desenho no escritório, especialmente com mobiliário” (SOARES, 1989, pg.16). 

No ano de 1970, trabalhou na Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), e criou uma linha de móveis exposta em diversas instituições do Brasil e do exterior (na Itália). Em 13 de outubro de 1977, fundou a Galeria Anna Maria Niemeyer, um espaço voltado à difusão e comercialização de arte contemporânea no Rio de Janeiro onde, enquanto no comando da galeria, gerenciou, coordenou e organizou mais de 300 exposições individuais e coletivas. Além das centenas de exposições itinerárias realizadas na galeria, ela conta com um acervo próprio, composto por obras de renomados artistas nacionais e internacionais, como Di Cavalcanti, Ziraldo, Albuquerque Mendes e Raphael García Miró. 

Ana foi casada com Carlos Magalhães da Silveira, com quem viveu por 14 anos e teve dois filhos, Carlos Oscar e Ana Cláudia. Sua relação com o pai, como foi citado anteriormente, ultrapassou a esfera familiar, Anna foi sócia profissional de seu pai, contribuindo em diversos projetos arquitetônicos, antes de se tornar uma admirada marchand. 

Junto com Victor Arruda e Ítalo Campofiorito, foi autora do projeto de criação do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-NITERÓI), tendo negociado com o pai a doação do projeto arquitetônico para a cidade. Coordenou a exposição “A Caminho de Niterói – Coleção Sattamini”, realizada no Paço Imperial e, inicialmente, integrou a Comissão de Estudo do Regimento Interno para a implantação do posterior Conselho Deliberativo e Coletivo do MAC-Niterói . 

Foi Conselheira Vitalícia da Fundação Oscar Niemeyer e desde 2003 é agraciada com o título de Membro Mérito da Associação dos Amigos do Paço Imperial. Em 6 de junho de 2012 no Rio de Janeiro, aos 82 anos, Anna Maria Niemeyer veio a falecer em decorrência de um enfisema pulmonar. 

Entre os principais trabalhos de Anna Maria Niemeyer estão projetos de interiores e móveis. Em Brasília, onde viveu desde 1960 até a inauguração da cidade em 1973, foi responsável por todo o projeto de arquitetura do interior do Palácio da Alvorada, Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal e trabalhou no Governo do Distrito Federal com o cargo de técnica de decoração.

O Projeto de decoração do Palácio da Alvorada foi um de seus trabalhos com maior destaque, sendo um dos dois projetos de autoria feminina a ser publicado na Revista Brasília, edição especial Arquitetura e Engenharia, de 1960. 

Entre seus trabalhos de interiores está o projeto de suíte presidencial e também o projeto das mesas de cabeceiras, nesse projeto é marcante a presença de “simplicidade”, característica do modernismo, e o que pode ser visto até como um “excesso de vazio”. Esses fatores se tornaram ainda mais interessantes tendo em vista a posição institucional que ocuparia o habitante deste quarto. No Palácio da Alvorada estão presentes outros móveis assinados por Anna Maria Niemeyer, como cadeiras na sala de reunião, trabalhadas em madeira e couro, que são construídas com formas simples, mas que ganham elegância e imponência justamente por valorizar o aspecto dos materiais escolhidos. A mesa de reunião, construída com estruturas em madeira de jacarandá, com travessas de aço e fixada com parafusos de metal, tampo feito de chapas de MDP revestidas com laminado de madeira jacarandá com bordas de madeira maciça também de jacarandá, madeira muito utilizada neste período. 

Anna Maria Niemeyer dedicou uma parte de sua carreira à criação de mobiliário: cadeiras, poltronas, sofás, mesas para funções diversas e combinações de uso de materiais como madeira, vidro, mármore, granito, latão dourado, alumínio anodizado, couro, veludo e palhinha. Além de usar suas próprias criações em mobiliário nos projetos de interiores, Anna Maria Niemeyer utilizava móveis de outros designers, como as poltronas de Charles e Ray Eames, que também foram escolhidas para ocupar o Palácio da Alvorada. Em paralelo às obras de construção da nova capital do Brasil, Anna Maria Niemeyer e seu pai trabalhavam na criação de uma série de móveis que desenvolveram a partir de uma necessidade que eles sentiam ao conceber seus projetos. A arquitetura de Oscar, muito reconhecida por suas formas, curvas e ângulos, nem sempre era preenchida com móveis que as valorizava, então era necessário criar móveis que faziam parte de um conjunto, como um plano bem executado. A partir disso criaram móveis com materiais como madeira, metal, mdp, palhinha natural, couro e revestimento em laca, que continham muitas linhas curvas e estruturas bastante diferentes das que haviam na época, entre eles a Mesa On, Poltrona e Banqueta Alta, banco A Marquesa, e cadeira de balanço Chaise Long Rio. 

Apesar de suas obras serem reconhecidas mundialmente, nem sempre são devidamente creditadas. O sobrenome muito marcante pode ter contribuído para este apagamento, com atribuição de obras de sua autoria a seu pai, por trabalharem em conjunto em muitos projetos. Um fator que contribui para a falta de credibilidade das peças, principalmente as do Palácio da Alvorada, é a falta de identificação adequada do autor nas pranchas do projeto, segundo Torres e Ferreira (2021, pg.6): “não constavam a identificação de autoria do projeto nem o nome da peça e também não havia a data de aquisição e nem o registro do atual estado de conservação”, o que revelou a autoria dos projetos eram a presença da mesma linguagem formal. A identificação documentada que constava era de “Niemeyer” apenas, sem indicar se a criação era de Oscar ou de Anna Maria, fazendo com que as associações fossem diretamente ao pai.

Anna Maria sofreu um forte processo de apagamento, e esse apagamento se manifestou de maneiras diversas, desde o início da carreira, ao trabalhar ao lado do pai, que ele possuía tamanha influência, fazendo com que o reconhecimento de todas as obras conjuntas fosse destinado principalmente a Oscar, às associações de seus trabalhos solo ao nome do pai, que não possuía contribuição nesses trabalhos. O apagamento de Anna Maria em relação a sua contribuição em trabalhos conjuntos com o pai ocorre até hoje, muitas peças de mobiliário icônicas projetadas pela dupla, são comercializadas como criação somente de Oscar.  A forma com que a mídia se refere a Anna Maria, também constituí uma porção deste apagamento. É comum ver referências a Anna sempre associadas ao pai, como se estivesse sempre à sombra dele, como se em seus trabalhos conjuntos ela fosse apenas uma ajudante, ou uma aprendiz. Ao longo da história é possível observar esse comportamento também com outras designers que atuaram em grupos ou ao lado de um homem, independente do grau de parentesco. 

Referências

COSTA Júnior, J. A.. Arquitetos-designers: o mobiliário moderno da Universidade de Brasília. 2014 

TORRES, F. F.C.; FERREIRA, F. H. Oficina-Escola de restauro de mobiliário moderno. Conservar Patrimonio, 38., 2021 

ALIAGA FUENTES, M. D. C., PESCATORI, C., COELHO, L. D. As (arquitetas) mulheres que fizeram a capital: seus projetos, suas vidas: história e historiografia da arquitetura e do urbanismo modernos no Brasil. 2019 

TORRES, Fernanda Freitas de Costa; FERREIRA, Frederico Hudson. O Mobiliário de Anna Maria Niemeyer para o Palácio da Alvorada. Estudos em Design, Rio de Janeiro, v. 29, ed. 3, p. 116-129, 2021. Disponível em: 

https://estudosemdesign.emnuvens.com.br/design/article/viewFile/1277/496. Acesso em: 3 set. 2022. 

ÁLVAREZ, Inés; GOMEZ, Juan. Anna Maria Niemeyer 1930-2012: Diseño, Producción Artística, Proyecto, Publicaciones y Curaduría. Argentina, 22 jul. 2015. In: Un Dia Una Arquitecta: Índice. Disponível em: 

https://undiaunaarquitecta.wordpress.com/2015/06/22/anna-maria-niemeyer-1930-2012/. Acesso em: 1 set. 2022. 

BRASIL, Billy. Anna Maria Niemeyer: Marchand, Designer, Galerista e Arquiteta de Interiores. In: Recanto das Letras. Bahia, 8 jun. 2014. Disponível em: 

https://www.recantodasletras.com.br/biografias/4837054. Acesso em: 31 ago. 2022. 

SOARES, A. M. de N. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília: Arquivo Público do Distrito Federal, 1989. 16 p. 

Conteúdo produzido por estudantes Felipe C. de Albuquerque, Fernanda C. Lourenço, Flavia R. Lacerda, Gustavo F. Cardoso para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria do Design 2 (Curso de Bacharelado em Design), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto
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