O quadrinista, roteirista, ilustrador e professor Marcelo D’Salete, nascido na capital paulista em 1979, cresceu na Zona Leste. Marcelo fez um curso técnico em Design Gráfico; em 2006, ele se graduou em Artes Plásticas na Escola de Comunicações e Arte (ECA); e em 2009, ele se tornou mestre em Estética e História da Arte, também pela USP. Em 2018, o quadrinista recebeu o Prêmio Eisner, conhecido como o Oscar das HQs, pela obra “Cumbe” na categoria “Best U.S. Edition of International Material”.
Marcelo veio de uma família humilde, sua mãe era auxiliar de enfermagem e seu pai, eletricista. Já na infância, ele costumava desenhar junto ao seu irmão e desde então, nunca parou. Parte de suas referências vieram das ruas, pois ao longo da sua adolescência, nos anos 90, Marcelo tomou conhecimento do rap e do hip hop, que aguçaram seu pensamento crítico. A literatura também auxiliou Marcelo a respeito da conscientização acerca das desigualdades sociais. Marcelo também passou por situações difíceis e desagradáveis, nas quais foi alvo de discriminação racial. Tais experiências estimularam e despertaram a construção de um olhar mais crítico, sobretudo, no que tange a práticas de resistência negra à estrutura racista da sociedade brasileira, algo que se refletiu profundamente nas suas produções.
Um traço evidente das obras de Marcelo é o uso da imagem como principal recurso de apelo visual, evocando recursos da linguagem cinematográfica, tornando suas HQs bastante dinâmicas. Nas suas primeiras obras “Noite Luz” (2008) e “Encruzilhada” (2011), Marcelo retrata pessoas das camadas sociais menos privilegiadas, abordando questões ligadas ao desemprego, ao machismo, ao racismo, ao medo, à decepção, numa pegada mais urbana (Cards 1 e 2).
Na obra “Cumbe” (2014), por meio da qual o autor recebeu o prêmio Eisner, ele trata do período colonial, dando relevo para africanos escravizados e sua batalha diária para sobreviver à violência, ao trabalho forçado entre outros tipos de opressões (Card 3). A obra foi publicada em Portugal, França, Itália, Áustria, Espanha, Turquia e EUA, tendo sido indicada também ao prêmio HQ MIX (Brasil, 2015) e ao Rudolph Dirks (Alemanha, 2017).
Parte 2: O romance histórico “Angola Janga” (“Pequena Angola” ou, como dizem os livros de história, Palmares) foi elaborado após 11 anos de pesquisa, tendo sido publicado em 2017 (Card 4). Nesta HQ, Marcelo explora a formação de Angola Janga no fim do século XVI em Pernambuco por fugitivos da escravidão e sua luta contra as forças coloniais portuguesas e os ataques de militares holandeses. A obra recebeu vários prêmios, entre eles: Prêmio Grampo Ouro (2018); Troféu HQ MIX (Brasil, 2018) em 4 categorias, inclusive, na de Desenhista Nacional; 60º Prêmio Jabuti (categoria quadrinhos); Rudolph Dirks (Alemanha, 2019) na categoria Melhor Roteiro da América do Sul. A obra também foi publicada nos EUA e em alguns países europeus.
Marcelo tem buscado construir representações de pessoas negras mais dignas e potentes, uma vez que as mesmas foram desumanizadas historicamente nos mais diversos tipos de narrativas. Nessa perspectiva, Marcelo combate visões eurocêntricas, mostrando outras maneiras de compreender o mundo.
Referências
- HAMA, Lia. Histórias necessárias. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/marcelo-dsalete-cultura-banto-tem-presenca-fortissima-na-nossa-linguagem/#page7. Acesso em: 23.07.2021
- *GOMES, Ivan Lima. Imaginando uma outra história da resistência negra: entrevista com Marcelo D’Salete. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/52030/27645>. Acesso em: 24.07.2021
- GORTÁZAR, Naiara Galarraga. Marcelo D’Salete: “Não precisamos de heróis, precisamos de boas histórias”. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/02/cultura/1554208356_198750.html>. Acesso em: 21.07.2021
- D’Salete, Marcelo. Disponível em: <https://www.dsalete.art.br/> Acesso em: 19.07.2021
Conteúdo produzido pelos estudantes Ana Paula de Liz (@anaaplz) e Patrick Hiroshi Makiyama para a disciplina de Histórias das Artes Gráficas da UTFPR com colaboração da Profa. Maureen Schaefer França
