O Design Pop no Brasil dos anos 1970: Domesticidades e Relações de Gênero na Revista Casa & Jardim 1
autoria: Carina Seron da Fonseca 2
A presente resenha aborda a tese O Design Pop no Brasil dos Anos 1970: Domesticidades e relações de gênero na revista Casa & Jardim, de Marinês Ribeiro dos Santos que é graduada em Desenho Industrial – UFPR (1994), mestra em Tecnologia e Sociedade – UTFPR (2000), doutora em Ciências Humanas – UFSC (2010) e professora do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade na UTFPR. A tese foi premiada no 24º Prêmio Design 2010 do Museu da Casa Brasileira e publicada como livro em 2015 pela Editora da UFPR. Seus interesses de pesquisa são os Estudos em Design, com ênfase na articulação entre cultura material, espaço doméstico e relações de gênero.
A tese foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – UFSC, e defendida em 2010, sob orientação da Dra. Joana Maria Pedro e coorientação da Dra. Carmen Silvia de Moraes Rial. Durante a pesquisa, a autora se dedicou a um período sanduíche na UFBA, sob orientação da Dra. Ana Alice Alcantara Costa. A obra apresenta uma abordagem interdisciplinar, a partir da História, da Antropologia e da Sociologia. Santos (2010) recorre também aos Estudos de Gênero, aos Estudos em Design e, com o intuito de dar conta da leitura de imagens, aos estudos e pesquisas sobre a imagem. O recorte espacial e temporal trata do Brasil, entre as décadas de 1960 e 1970. Em relação ao objetivo geral, a autora busca discorrer sobre o impacto das transformações nas relações de gênero, promovidas nos anos 1960, na incorporação da linguagem Pop pelo design de produtos feito no Brasil entre o final da década de 1960 e meados dos anos 1970.
A fonte da pesquisa consiste nas revistas Casa & Jardim do acervo da Biblioteca Pública do Paraná, entre 1952 e 1979. Santos (2010) entende essas revistas como mídias de estilo de vida, que operam como intermediárias culturais e produzem, divulgam, e legitimam formas de conhecimento, valores e comportamentos (identidades de classe, gênero e geração). Como objeto de pesquisa a autora considera os discursos textuais e imagéticos, referentes aos ambientes de interiores domésticos das edições. O uso da revista de decoração privilegia a circulação desses discursos textuais e imagéticos, que medeiam a produção e o consumo dos artefatos.

A tese apresenta 293 páginas, introdução, conclusão e 3 capítulos: 1. As mulheres e o espaço doméstico; 2. Do funcionalismo ao Pop e 3. A domesticidade pop dos anos 1970. De modo a compor suas análises e discutir a domesticidade pop, presente nas edições da revista, a autora aborda o contexto histórico, político, cultural e social do Brasil e do design nacional, considerando, entre 1950 e 1970: a questão de gênero a partir da clivagem público-privado, o processo de modernização capitalista (o desenvolvimentismo, a cultura do consumo, a modernização e racionalização da casa e a produção do mobiliário nacional), a ditadura militar, o milagre brasileiro e a revolução comportamental (movimentos sociais da juventude da época, como os movimentos pop e feminista).

Entre os conceitos abordados tem-se a Hibridização Cultural de Nestor Canclini ao tratar o Pop como um fenômeno híbrido; A Metáfora das Esferas Separadas, acerca da clivagem público-privado, por Linda Kerber; Em relação a identidade de gênero na revista, Identidade por Stuart Hall e Identidade de gênero por Judith Butler; A respeito das mídias de estilo de vida, a Cultura do consumo de Don Slater e a Auto-identidade de Anthony Giddens. A autora adota o método de análise de imagem de Martine Joly, que se dá pela interação de três signos: plásticos, icônicos e linguísticos. Em relação às considerações finais, a autora retoma os pontos principais de sua obra, dando um fechamento à tese.

Entendo a obra como científica, ao adotar teorias e métodos acadêmicos, e didática, tendo em vista seu formato em livro. Ao dar foco na circulação e no consumo dos artefatos, e abordar a história do design considerando seu contexto político, social, cultural e econômico, a autora se alinha a modelos historiográficos como os defendidos por Adrian Forty, Isabel Campi e Rafael Cardoso. A autora também se filia aos Estudos de gênero e às teorias feministas. A tese é uma das “pioneiras” ao apresentar como recorte o Design de interiores; ao adotar como fonte a Revista Casa & Jardim e ao abordar o design no Brasil. A obra abriu portas para outras pesquisas acerca das domesticidades, uma vez que a autora é orientadora de Pós-Graduação, UTFPR, e orientou outras pesquisas que tratam dos estudos de gênero e das domesticidades a partir de mídias de estilo de vida.
O texto é profuso e apresenta muitas informações históricas e conceitos, mas a linguagem é de fácil compreensão e torna a leitura fluída. A diagramação da página (letras com serifa; espaçamento entre linhas reduzido e texto justificado à direita) pode exigir um “fôlego” do leitor. Não há capítulos para método e fundamentação teórica, ambos estão diluídos no texto. Para o leitor, essa característica pode ser convidativa, pois a teoria vai sendo absorvida junto às análises. Algo que despertou minha curiosidade é que a autora não apresenta como se deu o tratamento da fonte, mas penso que possa ter relação com as dinâmicas do programa de pós-graduação em que a pesquisa foi desenvolvida.
Diante do exposto, indico a obra para pesquisadoras/es e leitoras/es que se interessem pela cultura Pop, pelos estudos das domesticidades, bem como pela história da casa e de seus processos de modernização no Brasil.
Notas
1 Tese disponível no repositório: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/93961
2 Doutoranda (2024 – 2028) e Mestra (2021 – 2023) em Design pelo PPGDesign da UFPR – Universidade Federal do Paraná, na linha de Teoria e História do Design. Graduada em Design de Interiores pela Unicesumar (2010 – 2012). Graduada em Artes Visuais pela UEM – Universidade Estadual de Maringá (2015 – 2018). Graduada em Tecnologia em Design de Moda pela EAD Unicesumar (2023 – 2024). Pós-Graduada em A Arte na Contemporaneidade pela Unicesumar (2013 – 2015). Pós-Graduada em Docência no Ensino Superior: Tecnologias Educacionais e Inovação pela EAD Unicesumar (2018 – 2021). Possui interesse em pesquisas nas áreas de Teoria e História do Design, Cultura Material e Domesticidades.
Resenha desenvolvida na disciplina Design e Cultura, do PPGDesign/UFPR, ministrada por Ronaldo de Oliveira Corrêa e Lindsay Jemima Cresto em 2024.