Pamela Colman Smith foi uma artista inglesa nascida em Londres no ano de 1878 e faleceu em 1951, aos 73 anos. Por conta do trabalho de seu pai, um americano, Pamela constantemente se deslocava entre a Inglaterra, Estados Unidos e Jamaica, passando boa parte da sua infância neste país, o que a possibilitou vivenciar muito da cultura e folclore.
Em 1893, aos 15 anos, Pamela se mudou para os EUA e começou a estudar arte no Instituto Pratt, onde desenvolveu suas habilidades artísticas com a ajuda do professor Arthur Wesley Dow. Pintor e ilustrador influente na época, ele ensinou sobre vertentes artísticas e filosóficas do período, principalmente o simbolismo, que futuramente seria uma referência marcante para as produções artísticas de Pamela. Porém, por conta da morte de sua mãe, a artista não conseguiu finalizar seus estudos e retornou para Londres com seu pai, quando iniciou seus trabalhos como ilustradora e também se juntou a um grupo teatral, auxiliando nos figurinos e cenografia, algo que também influenciou muito na sua forma de produzir arte.
Em 1902, a artista colabora com a revista A Broad Sheet, produzindo ilustrações. Um ano depois, decide lançar a The Green Sheaf, uma revista editada, ilustrada à mão e publicada pela própria Pamela, sendo um dos maiores exemplos de obras femininas ocultas pela história. Com a revista, a autora abordou os temas do folclore e misticismo em um tom mais melancólico, através de ilustrações, poemas e contos, sendo composta por contribuições de diferentes artistas de vertentes artísticas parecidas e de conhecidos de Pamela, além da própria autora. A revista era disponibilizada principalmente via assinatura por correios e produzida em um modelo arts & crafts, uma forma mais artesanal de publicação, buscando ser um contraponto à mecanização e produção em massa. Foi publicada em 1903 e obteve 13 edições até o começo de 1904, quando fundava uma gráfica em Londres de mesmo nome The Green Sheaf Press, a qual utilizou para publicar algumas obras menores de variadas autoras, sem ter muito sucesso.
O Tarot Smith-Waite feito por Pamela Colman é um dos seus principais trabalhos. Lançado em 1910 e composto por 78 ilustrações, trouxe grande influência na construção de todos os outros tarots posteriores, pois as artes produzidas pela artista e aplicadas no baralho fugiam ao padrão estabelecido anteriormente. As ilustrações foram todas desenvolvidas por Pamela, mas inicialmente sua única identificação na publicação eram as iniciais PCS em cada carta, enquanto o baralho era vendido sob o nome Rider-Waite, em referência ao idealizador e a editora publicadora do mesmo, o que viria finalmente a mudar, atualmente, com a adição do nome da artista nas últimas edições. O sucesso do baralho se deve principalmente às composições criadas por Smith para cada carta, que conferiram personalidade única para o baralho, trazendo características já conhecidas da autora, como o misticismo e o ocultismo, do qual era praticante. Tendo isso em vista, é possível afirmar que Pamela influenciou várias gerações de designers, uma vez que, as artes produzidas por ela e aplicadas no baralho fugiam ao padrão estabelecido anteriormente. E foi com base nisso que a artista brasileira Elisa Riemer se inspirou para realizar as artes para seu próprio baralho de tarot.
“O trabalho da Pamela foi revolucionário para nós. O conhecimento místico, na época, era muito restrito a pequenos grupos, normalmente masculinos, e praticamente proibido a nós, mulheres, artistas, lésbicas, revolucionárias, e ela teve um papel incrível na difusão do tarô e de suas imagens” – Elisa Riemer
Pamela produziu em sua vida diferentes formas de expressão técnica e artística, o seu talento e estilo diferenciado de suas ilustrações sempre chamou muita atenção e fez com que fosse procurada para ilustrar diversos materiais, principalmente livros. O autor Seumas MacManus teve sua obra In Chimney Corners totalmente ilustrada por Pamela, assim como In the Valley of Stars There Is a Tower of Silence, de Smara Khamara.
Apesar de sua importância na história, a artista nunca foi muito bem remunerada pelas suas criações, além de não ter recebido royalties de suas imagens no tarot. Faleceu com dívidas e sem o devido reconhecimento, enterrada em uma sepultura sem identificação. Seu apagamento aconteceu por diversas razões: por ser filha de um casal inter-racial, possuía a cor de sua pele em um tom um pouco mais escuro, motivo que desde o início privava Pamela de respeito e consideração com sua arte. Além disso, seu baralho acabou caindo no esquecimento poucos anos após ser publicado, por conta de mudanças de pensamentos durante a virada do século, sendo considerado ultrapassado. Pamela também participou do movimento sufragista, o qual as mulheres que participavam eram extremamente oprimidas, contribuindo com seu apagamento por não atender às expectativas e espaços destinados às mulheres naquela época. Felizmente, alguns de seus principais trabalhos vêm recebendo cada vez mais o devido reconhecimento, sendo exibidos em museus e galerias, devido à sua relevância e influência como artista.
Referências
BERTH, Joice. Isso as cartas não mostram: a origem negra e sufragista da artista por trás do tarô mais vendido no mundo.. A origem negra e sufragista da artista por trás do tarô mais vendido no mundo.. 2021. Disponível em: https://elle.com.br/colunistas/origem-do-taro. Acesso em: 9 set. 2022.
CONHEÇA a artista esquecida por trás do baralho de tarô mais popular do mundo. 2021. Disponível em: https://www.pensarcontemporaneo.com/conheca-a-artista-esquecida-por-tras-do-baralho-de-taro-mais-popular-do-mundo/. Acesso em: 9 set. 2022.
DIAS, Claudia. Marselha, Rider Waite, Lenormand e mais: diferenças entre cartas de tarô. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/10/11/marselha-rider-waite-lenormand-e-mais-diferencas-entre-cartas-de-taro.htm. Acesso em: 9 set. 2022.
GRANT, Marion. 2022. Advertising Women’s Entrepreneurship in The Green Sheaf: Pamela Colman Smith and the Fin-deSiècle Marketplace. Disponível em: https://www.ncgsjournal.com/issue182/PDFs/grant.pdf. Acesso em: 9 set. 2022
Conteúdo produzido por estudantes Bianca Czaya, Elivelton Martins, Heloisa Kozan, Leonardo Kiska, Matheus Tomiatti para a atividade "As mulheres na história do design" realizada na disciplina Teoria e História do Design 1 (Curso de Tecnologia em Design Gráfico), no segundo semestre de 2022, sob orientação da profa. Lindsay Cresto