Rubem Martins

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série design brasileiro

Por Clarisse Sophia Alejandra Di Núbila, Jean Carlos Cardozo Junior, Heloisa M. R., Adrielle Cristine Monferino Persichitti, Eyshila Giovanna Röper Pescini, Laura Nalio Costa, Louise Carvalho Ribeiro, Natália Borges Duran 

Designer gráfico, publicitário, artista plástico autodidata e designer de produto. Trata-se de Ruben de Freitas Martins, nascido no estado de São Paulo, que transitou entre essas quatro atuações ao longo de sua curta vida, de 39 anos. Ruben nasceu em uma família de fazendeiros, e mudou-se para a capital a fim de iniciar sua caminhada na escola regular, seu interesse pelas artes começou já aos 17 anos, mas não chegou a completar o segundo grau. Trabalhou como artista plástico antes de seguir para o design. Seus trabalhos de pintura detiam traços com características acadêmicas, mas o artista também experimentou abstração e geometria em seus trabalhos. Martins também morou em Salvador, num periodo que influenciou seu trabalho com o estilo moderno, trabalhando com nomes como Mário Cravo Júnior, Carybé, Marcelo Grassman e Lênio Braga, que foram consagrados como “Novos Baianos”, que adicionaram à arte baiana modernização com a abertura do ateliê de Mário Cravo, e instituindo diversas exposições. Ruben Martins se destacou em algumas exposições na Bahia, recebendo o prêmio Aquisição, em 1954, no III Salão Paulista de Arte Moderna, em Salvador. Martins teve trabalhos expostos também no Salão Baiano de Belas Artes. Seu tempo no Nordeste foi essencial para o alicerçamento de contatos que, futuramente, significaram diversos projetos de design e comunicação visual para instituições na Bahia. 

Com seu retorno para São Paulo na década de 50, Martins foi convidado a trabalhar na Unilabor, fábrica de móveis no estado de São Paulo. Lá, o artista auxiliou Geraldo de Barros em diversos projetos de mobiliário, assim como atuou como decorador. Dessa parceria, Rubens concebe aspectos muito fortes acerca de um processo criativo para projetos envolvendo linguagem e comunicação visual. Unindo-se novamente a Geraldo de Barros, surge uma sociedade e nasceu a forminform em 1958.A empresa é considerada como um dos primeiros escritórios de design do Brasil. Nesse contexto, Martins atendeu diversos clientes, desenvolveu mais de 50 identidades visuais, assim como vários projetos de produtos. Seus projetos exaltavam a racionalidade e funcionalidade. Não é difícil lembrar dos ideários da Bauhaus, ao considerar o trabalho de Ruben Martins. Seu escritório era administrado com postura semelhante a da escola alemã, se tornando um refúgio de formação de design, recebendo estagiários e parcerias, misturando design, ateliê e arquitetura. Os projetos eram norteados a partir de uma postura funcionalista e

racional, defendidos pelo argumento “a boa forma vende mais”. Essa frase, mais tarde, veio a ser patenteada como o slogan do escritório. 

Ruben expande o trabalho gráfico para além da identidades visuais, carregando suas criações para outras áreas da comunicação: publicidade e campanhas de produtos. Nesses projetos, Martins utiliza profusamente de elementos do modernismo: sua linguagem formal, racionalista e concreta. Vale destacar a campanha para o remédio “Disenfórmio”, cuja fórmula tratava perturbações intestinais. Para promover o produto, o anúncio foi montado com as palavras “perturbações intestinais” no topo, e em cada linha que seguisse abaixo, surgiam as sílabas de “disenfórmio”, desestruturando a dupla de palavras do início. O nome do produto também era apresentado com uma tipografia de tamanho maior e peso gráfico mais forte, novamente indicando a força do remédio para dissipar as perturbações intestinais. Trabalhos como esse, exploravam de maneiras interessantíssimas elementos visuais, cor e tipografia, costurados pela narrativa da identidade e clareza formal dos elementos. 

Ruben Martins foi descrito como pioneiro e transgressor. Pioneiro no design, não apenas por seus projetos carregados de narrativas, mas também pelo empreendedorismo ao abrir um importante escritório de design. Foi descrito como transgressor por não se prender à sistematização e ordenação do método modernista, permitindo dar lado ao improviso, à intuição e vicissitude. André Stolarski aponta no livro O design gráfico brasileiro: anos 60 (2006) que apesar de ser cuidadoso e exigente, o ritmo de trabalho de Ruben Martins nem sempre remetia à disciplina. Ruben diversas vezes emendava um dia numa noite de trabalho, mas às vezes emendava uma noite de festa à uma manhã de trabalho. Um produto do improviso de Ruben é, coincidentemente, um de seus trabalhos mais conhecidos: a identidade visual do Tropical Hotel. Stolarski (2006) narra que, Ruben sendo um homem boêmio, retorna para casa no final de uma madrugada, muito próximo do tempo limite para entregar a ideia para o projeto da identidade do Hotel, e percebe a sombra da folha de uma planta costela-de-adão projetada na parede. A partir da sombra e do movimento da folha, Ruben traça linhas simples, curvadas e simétricas para a logo do hotel, e, novamente, agindo como pioneiro, sobrepõe a figura em diversas cores, referenciando às folhagens. A linguagem concreta ainda se faz presente, mas Ruben deflete o olhar do trabalho em si para buscar a solução gráfica, sendo esta uma qualidade muito marcante na carreira e no ritmo de trabalho de Ruben Martins. 

Um profissional multidisciplinar, definitivamente, expandiu os horizontes de maneiras tão distintas, levando o design para além do designer.

Responsável pela criação de centenas de projetos, racional e funcional, a Forminform foi criada
para desenvolver Desenho Industrial e Comunicação Visual. Em 1959, Martins e Wollner deixam a Forminform, formando uma sociedade entre Ruben e Macedo. Walter deixaria a sociedade em 1963, fazendo Ruben assumir interinamente a empresa. Ele então se especializou na área gráfica, desenvolvendo linguagem e filosofia de trabalho próprias.

Uma das principais marcas desenvolvidas na Forminform foi a da Bozzano (1960), com um logotipo feito com formas geométricas regulares, a marca usa o movimento das curvas para remeter aos movimentos do corpo.

Outro trabalho que merece destaque é a marca da Braspérola (1960). Seu logotipo remete a rolos de tecido que se empilham ordenadamente, como nas lojas do ramo. O projeto do Tropical Hotel (1967) é um dos primeiros projetos com programa de aplicação amplo, seu logo é inspirado na sombra de uma planta tropical, conhecida como costela de Adão.

Referências

FORMINFORM. Ruben Martins: um pioneiro. Forminform, c2017. Disponível em: https://www.forminform.com.br/ruben-martins. Acesso em: 04 jun. 2022.

LACROCE, André. Ruben Martins: a trajetória do artista ao empresário de design. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM DESIGN, 5, 2009, Bauru. Anais […]. Bauru: Anped, 2009. p. 240-247.

MELO, Chico Homem de (Org.). O design gráfico brasileiro: anos 60. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.

RUBEN Martins. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa492553/ruben-martins. Acesso em: 04 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.

SABO, André Lacroce. Ruben Martins: trajetória e análise da marca Rede de Hotéis Tropical. 2011. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-02022012-111229/publico/Sabo_Lacroce_Andre_Mestrado_2011.pdf. Acesso em: 04 jun. 2022.

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