Emory Douglas é um designer gráfico afro-americano. Entre 1967 e 1980, ele foi o Ministro da Cultura do Partido dos Panteras Negras (CARD 1), representando graficamente a resistência como também as opressões sofridas pelas comunidades negras estadunidenses.
Emory nasceu em 24 de maio de 1943 em Michigan, mas aos oito anos de idade, ele se mudou para Califórnia, onde vive desde então. Aos 13 anos, Emory foi preso pela primeira vez por conta de jogos de aposta não regulamentados (“Shooting Dice”/“Street Craps”), considerados ilegais. Exposto desde jovem à violência policial, fundamentada no racismo estrutural, Emory se tornou um “rebelde”, passando por sistemas corretivos e até mesmo pela prisão. Na California Youth Authority, última instância antes do sistema prisional, Emory trabalhou em uma gráfica, onde teve seu primeiro contato com o design gráfico.
Ao obter a liberdade, ele foi aconselhado a cursar faculdade. Sendo assim, em 1960, Emory inicia seus estudos no City College (São Francisco), se especializando em arte comercial. Durante a faculdade, ele percebeu que grande parte dos estudantes de design eram pessoas brancas. “Deveria ter eu e provavelmente outroestudante negro na classe”, comentou uma vez ao ser entrevistado.
Emory Douglas se filiou ao Partido dos Panteras Negras em 1967, praticamente nos seus anos iniciais. Após uma reunião de planejamento em São Francisco sobre o fornecimento de uma escolta armada para Betty Shabazz (viúva de Malcom X), Emory perguntou a Huey Newton e Bobby Seale, co-fundadores dos Panteras Negras, sobre como ingressar no partido. Mas Emory só se envolveu com o partido quando Eldridge Cleaver se tornou o Ministro da Informação. Cleaver imediatamente solicitou que Emory trabalhasse com ele como o artista revolucionário do partido. A primeira conversa tratou do layout do jornal do partido, o “Black Community News Service”.
Emory foi responsável pela segunda edição, a primeira foi criada por Bobby Seale, Elbert Howard e L’il Bobby Hutton. A primeira edição foi reproduzida por meio de cópias realizadas com um mimeógrafo, mas a segunda foi impressa em papel jornal, profissionalizando a aparência do principal veículo de comunicação dos Panteras Negras. Enquanto Bobby estava interessado em obter mais fotografias para edições futuras, Emory defendeu a ideia de que o partido poderia usar ilustrações que refletissem a causa.
O jornal do partido circulava semanalmente atingindo cerca de 400 mil exemplares, sendo responsabilidade de Emory finalizar o mesmo dentro do prazo. Em grande parte, foram as imagens de Emory que comunicaram aos manifestantes quem eram seus opressores, por quais causas deveriam lutar e como poderiam resistir. Imagens da luta diária das comunidades negras circularam no jornal tais como julgamentos enfrentados nos tribunais (CARD 2); prisões, torturas e assassinatos de membros do partido (CARD 3); e formas de revidar e de se defender. Nesta perspectiva, tanto homens quanto mulheres foram representados pegando em armas, pois parte dos Panteras fez uso da lei de porte de armas na tentativa de protegerem suas vidas sob ameaça iminente (CARD 4).
Inimigos políticos como o presidente Richard Nixon e o diretor do FBI J. Edgar Hoover foram retratados como ratazanas por Emory e articulados, por vezes, ao imaginário nazista e à indumentária da Ku Klux Klan (CARD 5). Policiais, que costumavam abusar do poder, foram retratados ainda como porcos fardados (CARD 6). Tais imagens construíram visualmente a resistência e os objetivos do Partido dos Panteras Negras na sua luta por liberdade e justiça social (CARD 7).
Ps: a marca gráfica do Partido não foi feita por ele. Para saber mais, acessar: https://teoriadodesign.com/a-marca-grafica-do-partido-dos-panteras-negras/
Referências
- CANAL ABERTO. Prorrogada! Todo Poder ao Povo! (2017). Disponível em: < Prorrogada! Todo Poder ao Povo! Emory Douglas e os Panteras Negras no Sesc Pinheiros | Canal Aberto – Assessoria de Imprensa > Acesso em 26.07.2021
- Borges, Pedro. Emory Douglas, Ministro da Cultura dos Panteras Negras, participa de exposição em São Paulo. (2017) Disponível em: <Emory Douglas, Ministro da Cultura dos Panteras Negras, participa de exposição em São Paulo (ceert.org.br) > Acesso em 26. 07. 2021
- LETTERFORM ARCHIVE. This Just In: Emory Douglas & The Black Panther. (2017). Disponível em: <https://letterformarchive.org/news/view/emory-douglas-and-the-black-panther>. Acesso em: 20.10.21.
- O PARTISANO. A jornada revolucionária de Emory Douglas. (2020) Disponível em < A jornada revolucionária de Emory Douglas – O Partisano > Acesso em 27. 07. 2021
- SEALLE, Bobby. Foreword. In: Black Panther: the revolutionary art of Emory Douglas. New York: Rizzoli International Publications, 2007.
Texto produzido pelos estudantes Gabriel Cellarius, Clarice Ayumi, Laura Timei, Lucas Silvino e Victória Assad para a disciplina de História das Artes Gráficas do Curso de Tecnologia em Design Gráfico da UTFPR em colaboração com a Profa. Maureen Schaefer França.