Estratégias materiais de resistência lésbica

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No período de pré-libertação estadunidense – momento que antecede os levantes de Stonewall (NYC) – a população LGBTQ sofreu ampla discriminação, resistindo ao preconceito por meio de diversas estratégias materiais. Antes de dar continuidade, é importante frisar que as identidades sexuais são construídas historicamente, variando conforme tempo e lugar. Sendo assim, apesar de usarmos termos como LGBTQ, gay e lésbica para identificarmos as produções que serão abordadas a seguir, essas expressões não estavam em circulação nos anos que antecederam as revoltas em direção às condições de libertação como a de Stonewall. No período de pré-libertação, “lésbicas” e “gays” estavam sujeitos a pressões sociais extremas, perseguições e processos legais. A punição por “sodomia” e os mais vagos “crimes contra a natureza” criminalizaram efetivamente as práticas homossexuais. Essas restrições foram impostas supostamente para sustentar os padrões morais do período definidos amplamente em escala nacional. Desse modo, algumas das primeiras evidências que temos da vida LGBTQ nos Estados Unidos vêm dos autos de prisão, indivíduos processados sob regimes legais repressivos. Contudo, as lésbicas foram mais invisibilizadas nos registros históricos LGBTQ do período em questão. De modo geral, as mulheres foram sistematicamente apagadas de registros históricos realizados sobre as mais diversas áreas do conhecimento. Para as mulheres lésbicas tais acessos e interdições foram e ainda são ainda mais complicados, uma vez que têm mais preconceitos e obstáculos para superar do que as heterossexuais. Apesar disso, sabe-se que as mulheres lésbicas estabeleceram uma série de organizações dedicadas ao apoio mútuo e às causas da reforma da justiça criminal.

O grupo Daughters of Bilitis, fundado por Dorothy Del Martin e Phyllis Luon e outras seis mulheres, desenvolveram símbolos visuais notáveis como o logotipo Qui vive (“em alerta”) (Figuras 1 e 2), enquanto defendiam a descriminalização de suas vidas. Talvez o logotipo Qui vive faça menção ao símbolo do triângulo preto empregado pelos nazistas para marcar e identificar lésbicas como também prostitutas e mulheres que faziam sexo com judeus. A tatuagem de estrela náutica (Figura 3) também foi utilizada como estratégia de identificação pela comunidade lésbica pré-libertação em Buffalo (NY). A marca era usada como um identificador local entre as lésbicas “duronas de bar”, sendo tatuada no pulso com pequenas dimensões para ficar escondida sob relógios. Entretanto, as autoridades locais ficaram sabendo da tatuagem, verificando sua presença para realizar prisões. As lésbicas também foram representadas na cultura popular em capas de pulp ficiton (Figuras 4, 5 e 6), sendo figuradas a partir de tipos de feminilidades delicadas, sedutoras, recatadas e masculinizadas, moldando diversos modelos de lesbianidades.

Referência

CAMPBELL, Andy. Queer x Design – 50 years of signs, symbols, banners, logos and graphic art of LGBTQ.

Texto: Maureen Schaefer França
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