Durante as aulas da disciplina de Teoria e História do Design 2, ministradas para os cursos de Design e Design Gráfico da UTFPR, as zines possuem um papel fundamental na articulação e discussão dos conteúdos trabalhados, na análise da linguagem gráfica do movimento punk e na discussão de estratégias de comunicação de ideias, valores e ideologias, avaliando sua inserção em uma cultura de produção, circulação e consumo. A atividade é realizada desde 2018 como parte das avaliações da disciplina, desenvolvida em horário de aula e fora de sala, em equipes de estudantes. Os requisitos para a confecção da zine são: conteúdo original e reprodução de poemas, trechos de textos ou músicas; imagens, ilustrações e fotografias (próprias ou não); dimensões de uma folha A4, com dobras internas e/ou na estrutura toda; impressão (cópia) preto e branco; colagens.
Os temas das zines são comuns para a turma toda e variam a cada semestre. Alguns temas propostos foram: “o design na UTFPR”, com o objetivo de refletir sobre o curso na universidade, características, dificuldades, visões de estudantes; “o design pra mim é…”, motivado por discussões sobre diferentes concepções de design, entre estudantes, docentes e sociedade, e “a universidade pública no Brasil”, tema proposto para motivar um debate sobre a importância da universidade pública, da educação como direito e contribuições para a sociedade, em um momento no qual as universidades estavam sendo criticadas por alguns setores.
É interessante observar que estudantes possuem afinidades com certas técnicas e métodos de representação e expressão, como por exemplo a quantidade de ilustrações dependendo do tema/turma, ou o uso de imagens e colagens de acordo com os temas tratados. Algumas equipes utilizam mais textos, buscando aproveitar toda a área disponível da folha A4, enquanto outras escolhem frases de impacto, notícias que circulam nas mídias no momento e “memes” das redes sociais para promover suas ideias.
Nas zines com o tema “o design pra mim é…” surgiram vários questionamentos acerca das contribuições do design para a sociedade, entendendo-o como atividade ampla e complexa, que integra produção, circulação, uso e consumo de artefatos, podendo reforçar estereótipos e desigualdades ou promover a visibilidade para temas contemporâneos, como a diversidade, contribuir com melhorias na vida de comunidades ou grupos. A ideia de que o design é uma atividade neutra, de caráter universal, também é criticada por estudantes, que fazem questionamentos sobre suas próprias concepções profissionais muitas vezes, sobre a atividade ser considerada elitista e representada muitas vezes como preocupação estética de modo superficial, influenciando um entendimento errado sobre a prática profissional de designers.
Outras zines com o mesmo tema refletem sobre a atuação profissional de designers e etapas de trabalho, metodologia, projeto, representação, etc. As zines unem ilustração, texto e imagens para construir um panorama questionador da prática do design, a partir do “pensar fora da caixa”.
Outra zine aborda os temas do cotidiano de estudantes na graduação em design, indicando a relação entre expectativa e realidade do curso, de acordo com os períodos cursados. No primeiro período, o gato, personagem de “memes” nas mídias, está sendo entrevistado, com um microfone com símbolos de canais de televisão e afirma: “eu vim aqui fazer designer. Meu pai bem que me falou que é curso de vagabundo mas é que eu gosto de desenhá”. A linguagem bem humorada e irônica reproduz o tom usado em mídias e redes sociais, inclusive apoiando-se em imagens e personagem, adotando ainda a linguagem das Histórias em Quadrinhos. O trocadilho “fazer designer” também ganha mais significados, pois é uma das piadas feitas entre estudantes a dificuldade de nomear adequadamente a profissão e profissionais de design. Na mesma zine, elementos da prática profissional são ironizados, juntos com instrumentos e softwares utilizados por estudantes nos anos iniciais de formação: “já sei pesquisá, desenhá, e usá um escalímetro mas eu queria mesmo era mexer no Corél”. O olhar irônico para as atividades cotidianas do curso, como a prática do desenho, continua: “vai dar tempo de fazer esses mil duzentos e cinquenta e dois desenhos de representação técnica em nome de Santa Monalisa de Da Vinci salve nois tudo Amém”.
As zines com o tema “universidade pública no Brasil” denunciam a desvalorização das universidades, resinificando a palavra “balbúrdia”, usada pelo ministro da educação na época. Nas zines, são listadas as contribuições das universidades para a ciência e sociedade, valorizando o conhecimento científico e a contribuição da educação e de seu potencial transformador.
Referências
Texto completo publicado na revista Educação Gráfica: http://www.educacaografica.inf.br/artigos/as-zines-no-ensino-de-design-contribuicoes-do-movimento-punk-e-do-faca-voce-mesmo-zines-in-design-teaching-punk-movement-and-do-it-yourself-contributions