A história do design na América Latina guarda algumas semelhanças, como os processos de industrialização fragmentados, complexos e nem sempre eficazes para atender às demandas da população, crises políticas, econômicas e ditaduras militares. Gui Bonsiepe acredita que as investigações sobre o desenvolvimento industrial e tecnológico na América Latina concentram-se mais na produção de toneladas de aço e polietileno, ou nos megawatts produzidos pelas hidrelétricas, ou nas toneladas de soja do que nos artefatos que circulam na sociedade . O design, como argumenta Bonsiepe, está no valor instrumental dos artefatos e encontra-se na intersecção entre indústria, tecnologia, empresa, economia, sustentabilidade, políticas sociais e cultura da vida cotidiana. Os países latinos também sofrem com problemas semelhantes: falta de investimento e de uma visão estratégia de design por parte da classe política, que não investe nas áreas de economia e desenvolvimento, direcionando esforços e recursos para o design como estratégia para estimular o comércio, o turismo, a revalorização imobiliária.
Outra questão é tratar da história do design na América Latina somente a partir da implantação de cursos superiores de design, deixando de fora dos registros de profissionais que atuaram no design antes da década de 1960. Como Rafael Cardoso argumenta em “O design antes do design”, não reconhecer o trabalho de muitos profissionais antes da criação dos cursos de design é uma recusa em reconhecer atividades com alto grau de complexidade conceitual, sofisticação tecnológica e grande valor econômico, que abrangeram fabricação, circulação e circulação.
Nos anos 1990 e 2000 vários países da América Latina criaram seus programas de design, ou “marca país”, como ações de apoio ao desenvolvimento do design.
Na Primera Reunión de la Red Historia del Diseño em América Latina y Caribe, realizada em La Plata em 2004, foram definidos enfoques de projeto e métodos de trabalho, entre eles: proposta de uma antropologia do cotidiano, com a história do design na América Latina como uma história da cultura material e simbólica; design popular e anônimo; não limitar as investigações aos produtos “estrela”, como cadeiras, luminárias, cartazes e tipografia, abrangendo material instrucional médico, ferramentas de trabalho, livros escolares, formulários, design de informação; recusar as abordagens de designers “heróis e heroínas”, entendendo o design como atividade social inserida em um contexto mais amplo.
Lala Mendez Mosquera (1930-) formou-se em arquitetura, foi co-criadora da Cícero Publicidad e da revista de arquitetura Summa, editada e dirigida por ela por cerca de 29 anos. Colette Boccara, francesa que se estabeleceu na Argentina, cursou Arquitetura e Belas Artes, trabalhou com mobiliário e projetos arquitetônicos, mas interessou-se pela cerâmica. Fundou a Colbo, a cerâmica vermelha dos Andes, em 1953. A empresa fechou na década de 1980 e foi reaberta em nos anos 2000. Integra a marca país do Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto de la Argentina e em 2011 recebeu o selo Buen Diseño outorgado pela Subsecretaría de Industria de la Nación.
Referências
https://undiaunaarquitecta4.wordpress.com/2019/03/13/lala-mendez-mosquera-1930/
http://colbo.com.ar/
https://awards.latinamericandesign.org/
BONSIEPE, Gui; FERNÁNDEZ, Silvia. História del diseño em América Latina y Caribe. Edgard Blücher, 2008.
FERNÁNDEZ, Silvia. Matrices: mujeres del diseño (exposição). Centro cultural Kirchner. Disponível em:http://cck.gob.ar/eventos/matrices-mujeres-del-diseno_3787