Historicamente, o corpo gordo já simbolizou um ideal de beleza e de riqueza, como nos recorda a História da Arte, a lembrar das pinturas de Renoir do final do século XIX e início do século XX. Na sociedade brasileira do início do século XX, a magreza estava diretamente ligada à desnutrição, a hábitos alimentares ruins e doenças. Engordar era a palavra de ordem: como auxílio para tal fim, surgiram remédios, dietas de engorda, vitaminas e elixires. A mulher farta era vista como alguém que estava “vendendo saúde”. Casar como uma mulher curvilínea significava ter prosperidade e a garantia de ter filhos saudáveis. Nos anos 1960, o culto ao emagrecimento ganhou força jamais vista no século XX. Nos países ocidentais capitalistas, a ascensão da cultura juvenil transformou os padrões de beleza vigentes até então. Modelos magras e magros foram sacralizados e as prescrições destinadas ao combate a gorduras se intensificaram nas publicações daqueles anos. Idealizações dos corpos adolescentes passaram a nortear os novos ideais de aparência (independentemente da idade), sendo estes marcados por bustos menores, peles lisas (sem rugas, sem celulite, sem estrias, sem acne), silhuetas esguias e corpos firmes. Corpos voluptuosos, como o de Marylin Monroe, celebrados nos anos 1950, passaram a ser desvalorizados, uma vez que estavam relacionados culturalmente à maturidade e à maternidade. Nessa conjuntura, corpos magros foram associados à agilidade, à saúde, à modernidade e a um tipo de sexualidade ativa enquanto corpos gordos passaram a ser vistos como pessoas sedentárias, com falta de domínio próprio e com dieta alimentar desequilibrada – corpos que “precisariam” ser corrigidos. Nos anos 1980 e 1990, aeróbica entre outras atividades físicas prometiam milagres aos corpos “grandes demais”.
Nos anos 2000, a preocupação com a saúde tem sido justificativa para atacar e humilhar pessoas gordas. Saúde não é sinônimo de magreza, então por que gorda ainda é xingamento e não descrição? Apesar do segmento de moda plus size ter sido ampliado no país, em vários casos, não é tão acessível economicamente, minimizando ainda mais as opções de pessoas gordas, sobretudo, das camadas menos privilegiadas. Além disso, muitas lojas mantêm a numeração maior somente para comércio online. As revistas direcionadas ao público feminino continuam a exibir modelos magras em seus editoriais e capas. O design que se proclama “universal” não enxerga pessoas gordas na hora de projetar cadeiras, poltronas, macas e tantos outros produtos. Você já foi motivo de piada pela forma do corpo ou peso? Já deixou de usar um serviço porque não era para seu peso? Já sentiu desconforto ou vergonha em aviões, ônibus, cinemas, teatros? Já perdeu oportunidade de emprego por conta do seu corpo? Encontrou alguém como você em propagandas, apresentando o jornal ou nas novelas? Gordofobia é sobre isso.
Texto: Lindsay Cresto e Maureen Schaefer França