José Zanine Caldas

0 Compartilhamentos
0
0
0
0
0

série design brasileiro

Por Alice Alves dos Santos, Flávia Resende Lacerda, Gustavo Soares da Costa, Marina Dias Giacomin, Vinícius Akira Ioza Tokumo

José Zanine Caldas nasceu em 25 de abril de 1919 em Belmonte, cidade do litoral sul da Bahia, na região de Mata Atlântica, fato que marcou toda sua produção. Quando pequeno gostava de observar a floresta, apreciar o trabalho dos construtores da cidade e dos canoeiros que esculpiam as madeiras flutuantes para navegar do mar ao rio, e esculpia seus próprios brinquedos. 

Aos 18 anos, deixou sua cidade natal e foi ao Rio de Janeiro. Foi lá que em 1941, aos 22 anos, abriu o “Maquete Studio”, um ateliê de modelos reduzidos, onde teve contato em projetos de destaque de alguns dos maiores nomes da arquitetura moderna brasileira da época, como Oswaldo Arthur Bratke, Alcides da Rocha Miranda, Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Com seu ofício era possível tirar projetos do papel e dar proporções tridimensionais, identificando problemas projetuais e apresentando propostas de soluções, facilitando também a interpretação do projeto pelos construtores. 

Nesse momento Zanine forma seu pensamento arquitetônico, realizando a releitura da arquitetura colonial brasileira com soluções modernas, muitas vezes de caráter artesanal. Exemplos de maquetes produzidas por ele são do Conjunto Nacional e o Edifício Copan, em São Paulo, o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, e os palácios de Brasília. 

Em 1948 se muda para São José dos Campos, e junto ao Sebastião Pontes, abre a Fábrica de Móveis Z, Zanine, Pontes & Cia. LTDA. Pioneiro no uso do compensado naval buscou desenvolver peças simples que não necessitavam de mão de obra especializada para produzi-las. Fica evidente sua preocupação constante em fabricar móveis de qualidade a baixo custo. Entre 1948 e 1952, foram produzidas cadeiras, poltronas, sofás, mesas e estantes.

De acordo com Rafael Cardoso (2008): “Uma das soluções mais interessantes para o dilema da inserção do design na sociedade brasileira surgiu na área de mobiliário, na sequência das propostas nacionalistas avançadas por um Tenreiro ou um Zanine Caldas nas décadas de 1940 e 1950. Todo um grupo de designers brasileiros passou a apostar nas décadas seguintes no uso crescente de formas e materiais ligados à identidade brasileira para produzir móveis mais representativos dos valores da nossa cultura.” 

Por volta de 1950 Zanine foi convidado a ensinar a construir maquetes a alunos na recém criada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e na FAU 

Depois em 1953 fez pesquisas sobre paisagismos, realizando jardins externos, vasos de cerâmica, jardins públicos, sendo sempre um grande amante das plantas. 

Zanine se mudou para Brasília, em data imprecisa, mas logo antes da inauguração da nova capital, onde comprou uma chácara e cultivou diversas plantas nativas. Foi no cerrado que desenvolveu os arranjos decorativos de flores secas, que se tornaram um símbolo do artesanato brasiliense, fonte de renda para famílias até hoje. Nesse momento também lecionou em Brasília até 1964, devido à ditadura militar, quando ficou exilado na embaixada da Iugoslávia, mas fugiu pro Rio de Janeiro numa Kombi. 

A partir de sua saída da UnB permaneceu um tempo no Rio de Janeiro, onde se consolidou ainda mais como arquiteto e passou a ser valorizado e requisitado, pois se diferenciava por sua arquitetura alternativa e fora dos valores correntes de outros profissionais. 

Em 1968 foi a Viçosa, na Bahia, lá ele realizou o planejamento urbano de uma cidade ecológica que respeitava o saber local. Nesse local foi criado os “móveis-denúncia”, junto a construtores de canoas, móveis que mantinham o formato das árvores no intuito de denunciar o desmatamento das florestas. 

Nas pesquisas não é possível verificar por que Zanine deixou Nova Viçosa em 1980, foi então que voltou a Brasília, por lá ele construiu diversas casas e retornou a lecionar na UnB. 

Mudou-se para o Espírito Santo em 1998, onde viveu até seu falecimento no dia 20 de dezembro de 2001. Segundo Giselle Marie Cormier Chaim (2017): “Zanine faleceu em 2001, aos 82 anos, deixando uma extensa obra construída e diversos aprendizes com os quais trabalhou ao longo de cerca de sessenta anos de carreira, e que dão continuidade aos ensinamentos do mestre sobre a arte de construir em madeira.”

Referências

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. Editora Blucher, 2008.
CHAIM, Giselle Marie Cormier. O mestre, a madeira e a habitação: residências de Zanine Caldas em Brasília 1963-1985. 2017.

Você também pode gostar