Jane Grabhorn foi uma artista, tipógrafa, encadernadora e impressora estadunidense. Nasceu em 29 de junho de 1911, em São Francisco. Educada na França, onde aprendeu a encadernação, ela retornou à Califórnia quando adolescente e se tornou aluna de Belle McMurtry Young, uma proeminente encadernadora. Em 1932, ela se casou com Robert Grabhorn.
Jane trabalhava na imprensa de seu marido fazendo revisões, dobrando folhas impressas, contatando clientes, escrevendo cartas e até mesmo introduções de livros até decidir imprimir por si mesma em um mercado predominantemente masculino. Em 1937, ela fundou sua própria imprensa, a Jumbo Press, onde operava sozinha. Ela fazia uso da tipografia e da impressão para se expressar artisticamente.
Seu trabalho mais conhecido para a Jumbo Press foi o tratado A Typografic Discourse for the Distaff Side of Printing, a Book by Ladies (1937), que foi incluído na compilação Bookmaking on the Distaff Side, uma colaboração de Grabhorn junto a Edna Beilenson entre outras mulheres. Grabhorn também escreveu, ilustrou e publicou através da Jumbo Press, A Guide & Handbook for Amateurs of Printing (1937).
Em suas publicações, Jane questionava a predominância masculina e também encorajava as mulheres a subverter as regras impostas no meio da impressão. Grabhorn acreditava que a impressão tipográfica era uma forma de recuperação de palavras e das formas como elas são usadas na produção da linguagem, enfatizando o poder das palavras na luta pela emancipação das mulheres.
Ela acentua sua afeição pelas mãos “sujas” e o trabalho necessário para a impressão e, mais importante, sua admiração pela fisicalidade do objeto criado pelo próprio trabalho. A Jumbo Press era menor e não dava tanto lucro quanto a Grabhorn Press. Porém, os sucessos dela podem ser medidos por suas qualidades subversivas em relação às tradições da história da impressão.
Os esforços feministas de Grabhorn expressos em sua coletânea The Compleat Jane Grabhorn são aqueles que inspiraram os tipos de mudança social indicativos da segunda onda do movimento feminista, quase vinte anos após A Typografic Discourse. Sua evocação como feminista pode ser imaginada por sua discordância com o estilo de vida doméstico exigido para as mulheres do século XX.
Um pouco sobre a carreira e seus objetivos: é interessante dizer que a Jumbo Press foi totalmente experimental e uma rebelião aos padrões artísticos da época, assim como ao que se esperava de uma mulher no período no qual ela trabalhou. Em contrapartida, quando ela trabalhou com a Colt Press, demonstrou desejo em aprender e alcançar os objetivos artísticos e profissionais que ela até então tentava evitar.
A partir daí, buscando cada vez mais a qualidade da impressão pela Colt Press, ela focou fortemente nisso, e começou a exigir o reconhecimento merecido pelo seu trabalho e seus esforços. Mesmo não tendo sucesso em atingir os objetivos estabelecidos para si, ela continuou o seu trabalho e dedicou o resto de sua vida a isso: entre o seu desejo de se expressar e as limitações externas impostas ao seu trabalho, inspirando futuras gerações.
Sobre o livro Bookmaking on the Distaff Side, ele foi produzido em 1937 por uma associação de impressoras chamada Distaff Side e é uma compilação de ensaios e poesias de diferentes profissionais, contendo uma infinidade de tipos de letra, papéis e designs.
Para além do design, interessa também o conteúdo do volume, sendo um dos poucos livros dedicados quase exclusivamente à história das mulheres. Uma das colaboradores, Edna Beilenson (para saber mais sobre ela, clique aqui) da Peter Pauper Press, escreveu ironicamente:
“O Distaff Side é uma organização frouxamente unida de mulheres recrutadas em gráficas, editoras, estúdios e outros esconderijos onde podem ser encontrados devotos das artes gráficas. O grupo nasceu de uma justa indignação de que o reconhecimento suficiente nunca tenha sido concedido ao lugar da mulher na história da impressão. Para corrigir essa deficiência [sic], The Distaff Side publicou seu primeiro livro intitulado Bookmaking on the Distaff Side, que revelou as contribuições monumentais que solteiras, esposas e viúvas fizeram para as artes gráficas. Uma colaboração não hierárquica, verdadeiramente feminista, entre impressoras mulheres”.
Bookmaking on the Distaff Side foi publicado em uma edição de 100 cópias, sendo certamente um esforço colaborativo. As páginas do título e de dedicatória foram desenhadas por Bruce Rogers, enquanto a encadernação foi feita por Miss M.E. Stewart de J.C. Valentine & Co., e papel de encadernação adquirido por contribuição de Miss Delight Rushmore e algumas outras participantes da realização da obra. Ainda é importante ressaltar que esse livro não possuía um índice e que a maioria das páginas não eram numeradas.
REFERÊNCIAS
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SANDS, Jennifer. Jane Grabhorn: A professional biography of a woman painter. 2010. Disponível em: https://www.proquest.com/openview/64e886606ca149bf3370d2af64e8a023/1?pq-origsite=gscholar&cbl=18750. Acesso em: 3 set. 2022.
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Sands, Jennifer (2010). Jane Grabhorn: A Professional Biography of a Woman Printer. pp. 96–98. OCLC 727397837.
Texto: Adriel Marques, Cauã Guerreiro (@cauvacg), João Eduardo (@joao_eduard0o), Luiz Guilherme (@morangueiro._) e Paulo Vinicius. Conteúdo elaborado para a disciplina de Teoria e História do Design 1, do curso de Tecnologia em Design Gráfico da UTFPR, sob orientação da profa. Lindsay Cresto.